‘A República já aparecia inquinada, ao nascer, do mal
tremendo que a está afligindo. Na sua constituição haviam intervindo
elementos mórbidos. Cuja acção deletéria difícil será eliminar do seu
organismo. Longe de se ter procurado aniquila-los, alimentaram-nos.
Fizeram-lhe o terreno propício à devastação infalível.’, foi esta a «Opinião de um Monárquico», Carlos Malheiro Dias, escrita in «Zona dos Tufões».
O mundo que os implantadores republicanos tão frequentemente puseram
em causa, e utilizaram como justificação para a sua revolução
verde-rubra, vingou-se justamente dos seus prosseguidores, pois os novos
senhores do Estado cedo abandonaram a defesa das razões activas com que
justificaram a implementação do novo regime.
Os ‘donos’ da República Velha, fartos em questiúnculas, mas
com pouco bom senso para amenizar e irmanar as diversas energias
politico-sociais, – embora se dissessem irmãos e primos – não tiveram,
também, engenho para melhorar a gestão financeira e reformar a
administração do Estado; antes sim mergulharam o País na guerrilha, na
bancarrota e na censura. Foi este, então, claro, o resultado necessário e
esperado de uma espécie de remexida de ideias.
‘Ser republicano por 1890, 1900 ou 1910, queria dizer ser
contra a monarquia, contra a Igreja e os jesuítas, contra a corrupção
política e os partidos monárquicos, contra os grupos oligárquicos. Mas a
favor de quê?’
Seria errado encará-lo como um movimento puramente ideológico, pois a
esta rebelião não foram alheios os interesses dos protagonistas
revolucionários. Não ficou no anonimato o desabafo de um dos implantados
para outro enquanto na varanda era comunicada a instauração do novo
regime: ‘Eles já comeram muito, agora é a nossa vez!’
Ora, como numa viagem, um mínimo desvio inicial torna-se cada vez
maior à medida que vai aumentando a distância. Só anda meio caminho,
quem começou bem, mas como começaram mal, para o País não alcançaram
nada do que prometeram, outrossim, foi o que se viu; deram nova
existência ao pensamento de Miguel Delibes: ‘Para aqueles que não têm nada, a política é uma tentação compreensível, porque é uma forma de viver com grande facilidade’.
Cedo o regímen republicano foi ultrapassado pelos defeitos
originários, pois logo desde a sua implantação o republicanismo
português mostrou não estar à altura das exigências do País. Não houve
qualquer progresso histórico, as instituições não adquiriram qualquer
vigor democrático que já não existisse na Era da Monarquia, o progresso
social é mínimo, pois substituiu-se uma estrutura de classes por uma
outra: a burguesa.
Ora assim sendo, as influências da revolução republicana portuguesa
são fáceis de descobrir: o fervor maçónico e o jacobinismo da revolução
francesa. Nada de socialismo, pois, os próprios socialistas, (que hoje
representariam todo o universo que abrange a social-democracia, passando
pelo centro-esquerda e pelo socialismo) já haviam rompido, a sua breve
ligação, com os republicanos em 1907, e logo em 1910, dois meses
volvidos sobre a proclamação da república, se queixavam das limitações
ao direito de greve.
Mas esse ateísmo oficial e insistência no aperfeiçoamento apenas
material do indivíduo considerando, erradamente, tudo o resto misticismo
de baixa condição, mostrou um desconhecimento pobre da história da
Nação Portuguesa e ignorou o temperamento do Povo. Ignoraram o
principal: o conhecimento prático do homem!
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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