Em todo o planeta os regimes republicanos esvanecem-se, entre
crises económicas financeiras e políticas o séc XXI apresenta-se como o
culminar de um processo histórico com início no séc XVIII. A ideia de
que o Estado , na sua essência, se resume ao caminho em direcção à
sociedade perfeita parece ter encontrado o mesmo destino que a tese do
“fim da História”. Afinal a história volta como ressaca .
Portugal é um caso curioso deste processo. Não teve uma revolução
industrial, não foi devastado por nenhuma das terríveis guerras
europeias e tem uma brilhante tendência para comprar, na Europa, o que
está na moda (e fá-lo de forma brilhante) em termos de ideias
políticas, o que a par com um forte sentimento de identidade proporciona
resultados interessantes .
De todos os países europeus é o que ainda mantém intocáveis a
tradição medieval, que juntamente com um passado glorioso deixa
estupefacto todo o estudioso que vê nesta República centenária todos os
pressupostos de uma Monarquia
Afinal, como perdeu Portugal a Monarquia?
O peso que o Regicídio de 1908 tem na explicação do advento da
República explica-se em grande parte pela completa colagem do regime ao
Monarca, um e outro eram o mesmo e o que faltou foi
a consciencialização de que o regime monárquico transcendia em muito a
pessoa de D. Carlos, por mais paradigmático e carismático que este
fosse. Faltou uma fundamentação doutrinária que, expressa em termos
acessíveis aos homens da época, representasse uma “Demanda”
suficientemente poderosa para resistir às tentações e aos cantos de
sereia das novidades republicanas.
O Séc. XIX apresentou-se logo como uma conclusão história da Revolução Francesa do séc XVIII, entre a escassez de Malthus ,a desregulação económica de Adam Smith e o evolucionismo mecanicista linear de Darwin a
História apresentava-se pronta para ser triturada sob os auspícios do
Positivismo de Comte. O republicanismo português estava totalmente
assente neste ideal, Henriques Nogueira (1825-1858), activista
positivista da década de 40, que escreveu uma “espécie de evangelho
republicano português”.
Nas Memórias de François-Rene de Chateaubriand quando, ainda jovem,
serviu no exército contra-revolucionário do Duque de Brunswick, formado
por emigrados da nobreza para combater a Revolução Francesa.
Chateaubriand descreve que esse exército não poderia estar fadado senão
à derrota, já que os jovens aristocratas que serviam em suas fileiras
estavam profundamente impregnados da mentalidade enciclopedista e
voltairiana, e nutriam admiração pelos ideais revolucionários que, por
mera força de um atavismo familiar desprovida de convicção, combatiam de
armas na mão.
O advento da república aparecia assim um facto consumado para a
geração de 70, especialmente para a burguesia lisboeta que preenchia os
postos da Administração Pública, um estado mental que ainda hoje
reconhecemos como o “deixa andar”. Até mesmo monárquicos convictos pouco
a pouco se foram resignando à ideia de que a república significava o
futuro. Alguns até reconheciam a república como um ideal em tese
desejável, se bem que não alcançável a breve prazo seria talvez a única
forma de Portugal entrar na modernidade. No
dia 5 de Outubro de 1910 a população de Lisboa entre festejar ou
contrapor a pequena revolução que decorria no marquês de Pombal preferiu
fechar-se em casa e ocupar-se dos afazeres diários.
A História provaria nos escassos 16 anos em que durou a 1º República
que tudo não passou de um equívoco, a ideia de um evolucionismo sem a
presença de uma indústria ou de um crescimento na ciência sem o espaço
para a aplicar explicava a completa fantasia que morava nos debates
parlamentares de S. Bento.
Os portugueses em geral vêm a República e as tendências políticas
importadas da Europa como um BMW importado da Alemanha: é interessante
para fazer ver , mas aparte disso só serve para gastar dinheiro. No
fundo, talvez seja por essa razão que o governo português parece andar
tão empenhado a pôr todos os portugueses a andar de bicicleta.
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