A sentença estava traçada há vários anos e tinha como objectivo a implantação da república em Portugal.
Por isso no dia 1 de Fevereiro de 1908,
há 108 anos, quando a Família Real, vinda de Vila Viçosa chegou a Lisboa
e ia entrar para a Rua do Arsenal, ouve-se um tiro. O possível sinal
para o início da “chacina”. São assassinados a tiro, no Terreiro do
Paço, Sua Majestade el-Rei D. Carlos e o Príncipe Real D. Luís Filipe.
A 21 de Maio de 1908, D. Manuel II descreveu a forma como viveu este trágico acontecimento, sob o título de “Notas absolutamente íntimas”: “Vi
um homem de barba preta [...] abrir a capa e tirar uma carabina [...].
Quando [o] vi [...] apontar sobre a carruagem percebi bem, infelizmente,
o que era. Meu Deus, que horror o que então se passou! Logo depois do
Buíça ter feito fogo [...] começou uma perfeita fuzilada, como numa
batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto, nenhuma
providência! Isso é que me custa mais a perdoar ao João Franco...”
Magalhães Lima pronunciou a doutrina e o Grande Oriente Lusitano (obediência maçónica portuguesa), executou-a!
Para a concretização do plano surge a
Carbonária Portuguesa - maçonaria irregular, fundada em 1896 por Luz de
Almeida, integrada na loja Montanha.
A Carbonária Portuguesa foi criada com um único objectivo: derrubar a Monarquia,
nem que para isso tivesse de recorrer ao assassínio. Era uma força
armada e milícia maçónica, que mobilizava alguns milhares de elementos,
fabricava bombas, fornecia armas e, clandestinamente, dava instrução
militar aos seus membros e foi responsável pelo atentado contra o
legítimo Chefe de Estado Português e Seu Augusto filho.
Este Crime Inqualificável,
é o culminar de alguns anos da feroz e mentirosa propaganda
republicana, que culpava El-Rei D. Carlos por todos os males do país,
afirmando, insistentemente, que o Rei estava desacreditado, quer no país
quer no estrangeiro, bem como a Família Real, que D. Carlos era um Rei
ignorante e inexperiente, sempre influenciado pela igreja, indiferente
aos interesses de Portugal… entre tantas outras acusações, que ia
publicando na imprensa nacional e internacional.
A máquina propagandística estava muitíssimo bem afinada!
Propaganda esta que teve como principal
instigador, o Grão-Mestre do Oriente Lusitano Magalhães Lima, que ao
longo dos anos foi colaborando e fundando alguns jornais,
designadamente: “A Republica Portugueza”, “Comércio de Portugal”, “ O Século”,
etc., onde desferiu os seus ferozes ataques à monarquia e ao Rei de
Portugal, sendo pois, ao invés de D. Carlos e da Monarquia, o principal
responsável, pela impopularidade do regime, através dos seus escritos
intencionalmente direccionados e de falsos argumentos.
Para Magalhães Lima, D. Carlos era também o grande responsável pela permanente divisão partidária.
Contudo, nada pode ser mais falso.
Em primeiro lugar, o bipartidarismo
resultava, não da vontade do Rei, mas dos resultados eleitorais. E a
divisão partidária não acontecia na Monarquia, pois aqui, o Rei,
representa a Nação, na sua plenitude e continuidade e não sendo eleito,
não fomenta qualquer disputa partidária mas acontece, precisamente, na
república, em virtude da eleição do chefe de estado, oriundo de um ou
outro quadrante político e normalmente apoiado por forças partidárias.
Em segundo lugar, D. Carlos, teve uma
intensa actividade diplomática, que credibilizou imenso o país, e a sua
imagem no exterior. Visitou alguns países e recebeu em Portugal diversos
Chefes de Estado, que o admiravam muito, entre os quais Alfonso XIII de
Espanha, Guilherme II da Alemanha, Eduardo VII da Inglaterra, o
presidente Loubet de França, o rei do Sião Chulalongkorn (Rama V).
Em terceiro lugar, D. Carlos era um
Homem culto e avançado para época. Pintor notável e investigador no
campo oceanográfico, sobretudo da biologia marítima, era também um
ornitólogo, a si se devendo a publicação do “Catálogo Illustrado das Aves de Portugal”. El-Rei foi um cientista!
E a trágica morte do Príncipe Real D.
Luís Filipe, um jovem, barbaramente assassinado, privou Portugal de um
jovem que tinha todas as condições para vir a ser um grande Rei, já que
para isso vinha sendo preparado desde o seu nascimento.
Mas a culpa não é só dos republicanos.
Alguns monárquicos contribuíram, também
para que se criasse um ambiente hostil ao Rei, designadamente os
dirigentes do Partido Progressista, José Luciano de Castro e do Partido
Regenerador António de Serpa Pimentel.
Desde a Regeneração que o sistema
político português se desgastava a olhos vistos, sobretudo devido à
alternância de dois partidos no Poder: o Progressista e o Regenerador. A
situação agravou-se com o aparecimento de novos partidos, que emergiram
de dissidências internas, o Partido Regenerador Liberal, de João Franco
e a Dissidência Progressista de José Maria de Alpoim, recaindo sobre
este último inúmeras suspeitas de envolvimento no regicídio.
Cerca de 32 meses após o Regicídio, a 5
de Outubro de 1910 a república é proclamada em Portugal. E logo surgem
os “adesivos”, isto é, os monárquicos que se “tornaram” republicanos e
vivem, confortavelmente, no regime.
“Adesivos”, ainda hoje os há, e pude constatá-lo recentemente nas eleições presidenciais!...
(1) Sobre o Regicídio já aqui escrevi três artigos: O Regicídio - “Lisbon’s shame!; Não, não esquecerei este hediondo crime!; O Regicídio; Infames, infames!
(2) Lei Maçónica e Lei Civil. Sugestões para um Estudo, in Ensaios de Maçonaria. Lisboa, Quetzal Editores, 1988, pág. 54.
Oliveira
Marques, foi professor universitário, historiador e Grão-Mestre Adjunto
do Grande Oriente Lusitano (1984-1986) e Soberano Grande Comendador do
Supremo Conselho do Grau 33 (1991-1994).
Publicado por por José Aníbal Marinho Gomes, em Risco Contínuo
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