Em 12 de Novembro de 1855, nascia Mouzinho de Albuquerque, um heróico
oficial de cavalaria português do século XIX e uma das mais brilhantes
figuras militares portuguesas, que se notabilizaria durante as gloriosas
campanhas de África (1894/95), e que ganhou grande fama em Portugal por
ter protagonizado, em 1895, a captura do imperador nguni Gungunhana, na
terra de Chaimite, e pela condução da ulterior campanha de pacificação
das populações locais de Chaimite e de Gaza que afiançariam lealdade à
administração colonial portuguesa, no território que viria a constituir o
presente Moçambique.
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque nasceu, como acima indicado, a
12 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, concelho da Batalha,
Leiria, e era filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e
de Maria Emília Pereira da Silva e Bourbon.
A 23 de Novembro de 1871, muito novo, com somente 16 anos de idade,
assentou voluntariamente praça no Regimento de Cavalaria Nº 4,
ingressando de seguida no Colégio Militar da Luz, completando o curso na
Escola do Exército em 1878, com o posto de Alferes. Era o inicio da
fabulosa e destemida carreira militar de Mouzinho de Albuquerque.
Em 1871 matriculou-se nas Faculdades de Matemática e Filosofia da
Universidade de Coimbra, cidade onde contraiu matrimónio com sua prima,
D. Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão.
Em 1882, toldado pela doença, a brilhante carreira iniciada por
Mouzinho sofreu um revês: incapaz de frequentar o 4º ano do curso
universitário retornou a Lisboa, onde durante dois anos não exerceu
qualquer actividade. Recuperado, em 1884, foi promovido a Tenente e
nomeado regente de estudos no Colégio Militar.
Em 1886 indigitado para um posto na fiscalização do Caminho-de-Ferro
de Mormugão, Mouzinho partiu para a Índia, e dois anos depois é nomeado
secretário-geral do governo do Estado da Índia. Notável administrador
colonial, a sua carreira é meteórica, e, em 1890, é promovido a Capitão e
nomeado governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que
desempenhou até 1892, tempo do regresso a Lisboa.
Volvidos dois anos, em 1894, volta às colónias, como Comandante do
esquadrão de Lanceiros n.º 2, e que se haveriam de associar às forças da
expedição militar de António Ennes que tinham por móbil subjugar as
rebeliões indígenas no sul de Moçambique.
Foi aí que Mouzinho de Albuquerque se distinguiu nas campanhas de
África, designadamente, a que conduziria ao aprisionamento, em Chaimite,
a 28 de Dezembro de 1895, do chefe das insurreições, o vátua
Gungunhana. A 11 de Novembro de 1895, as tropas comandadas por António
Ennes, entre as quais se encontrava Mouzinho, tomaram Manjacaze, sede
de Gungunhana, que se pôs em fuga, em direcção a Chaimite, onde é
acossado, três dias depois, pelas tropas capitaneadas por Mouzinho. Após
um arrojado cerco à povoação, prendendo o imperador Africano e
aprisionando grande parte da sua família, estes entregam oito diamantes,
mil libras em ouro, armas e respectivas munições e todo o marfim e gado
que possuíam como penhor dos prejuízos causados pelas insurreições.
Gungunhana e os demais cativos são entregues, em Lourenço Marques, a
António Ennes, governador-geral da colónia, acabando por ser enviados
para Lisboa. Após aquele sucesso militar que lhe granjeou enorme
projecção nacional e internacional, Mouzinho de Albuquerque é empossado
governador-geral de Moçambique, a 13 de Março de 1896. Ainda no mesmo
ano é designado Comissário Régio.
Para o temerário Mouzinho os êxitos militares prosseguem, pois
comandou ainda diversas campanhas de afirmação territorial de Portugal
em África: Naguema (3 de Março), Mocutumudo (6 de Março ) e Macontene
(21 de Julho), todas em 1897. Após as quais, a 18 de Novembro do mesmo
ano, Mouzinho de Albuquerque regressa a Portugal com desígnio de
assegurar junto do Ministério do Reino um empréstimo que lhe
possibilitasse empreender determinadas reformas que julgava
imprescindíveis.
Em 15 de Dezembro de 1897, Mouzinho de Albuquerque aporta em Lisboa
onde é, qual triunfador romano, recebido em apoteose, tendo inclusive
direito a uma espécie de desfile triunfal pelas ruas da Capital –
medidas as respectivas distâncias, naturalmente. Depois iniciou um
périplo pelas capitais da Europa, Londres, Paris, Berlim, onde, com
grande divulgação mediática, fez diversas palestras e colóquios nas
respectivas Sociedades de Geografia.
Já novamente, em Moçambique, é exonerado das funções de Comissário Régio e volta à Metrópole.
A 28 de Setembro de 1898, o herói Mouzinho de Albuquerque assume
funções como oficial às ordens do Rei e é designado ajudante de campo
efectivo d’El-Rei Dom Carlos I de Portugal, oficial-mor da Casa Real e
nomeado pelo Rei para a mais importante das tarefas, a de aio do
Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, então com treze anos, para a
sua instrução passar a ter mais uma componente militar e a ser uma
preparação para reinar. ‘Faz dele um Rei’, disse-lhe Dom Carlos. Ficou célebre a Carta que Mouzinho escreveu então ao Príncipe Real e Duque de Bragança: ‘Quando
Vossa Alteza chegou à idade em que a superintendência da sua educação
tinha que ser entregue a um homem houve por bem El-Rei nomear-me Aio do
Príncipe Real (…) ‘. Começam uma viagem pelo Reino, para conhecer o
Povo e os seus anseios. Porto, Penafiel, Braga, Viana do Castelo, quase
todo o Norte do País ficou a conhecer e a admirar o seu Príncipe Real e
Mouzinho de Albuquerque.
Mas as intrigas da Corte não eram o terreno belígero indicado para o
temperamento de Mouzinho, que apontara os problemas da política da época
e tecia fortes críticas à partidocracia vigente que com o clima de
indecisão política agonizava a própria Monarquia. Este ambiente
repugnava o próprio Dom Carlos I:
‘Governe-se com o Parlamento, é esse o meu maior desejo, mas para
isso é necessário que ele também faça alguma coisa. É preciso obras e
não palavras. De palavras, bem o sabemos, está o País farto. Não quer
discussões políticas das quais pouco ou nenhum bem lhe virá, o que quer é
que se discuta administração, que se discutam medidas que lhe sejam
úteis. Assim poderá o País interessar-se pelo Parlamento; com discussões
de mera política, interessará os amadores de escândalos vários, esses
sim, mas fará com que a parte sensata e trabalhadora do País se
desinteresse por completo daquilo que para nada lhe servirá.’,
escreveria El-Rei, o que levaria ao célebre decreto que permitia a João
Franco governar sem o periclitante Parlamento, com as consequências
trágicas que se conhecem.
A inveja dos áulicos e dos políticos tecem então uma teia de
suspeições e maledicências a que o carácter do herói Mouzinho de
Albuquerque não foi imune. Atribuíram-lhe as mais vis mentiras,
especialmente, por causa da amizade honesta com a Rainha Dona Amélia que
reconhecia os desmandos dos partidocratas e dos cortesãos e via nele
reminiscência da rectidão alva dos antigos cavaleiros-heróis
portugueses.
Porém, os inuendos, as detracções, as calúnias e as infâmias
avolumam-se e acossam o herói contra uma posição para si insustentável,
e, impossibilitado de lidar com toda essa insídia, quer pelo seu
carácter de homem impoluto quer pela sua própria espartana formação
militar, opta pelo suicídio – como os grandes romanos que renunciavam a
morrer corrompidos pela lassidão do poder e do sistema, mas faziam desse
gesto de oferecer as veias ao pugio o derradeiro de uma honra que não estavam dispostos a perder ou sequer ceder.
8 de Janeiro de 1902… morre, em Lisboa, Mouzinho de Albuquerque,
perante a consternação geral do País que chora a partida do Herói de
Chaimite.
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
Sem comentários:
Enviar um comentário