‘Para bem governar Portugal basta ser – realmente – Bom, porque a
Bondade dos Antigos Reis, fez deste Povo, o melhor dos melhores povos
do Mundo’, escreveu o 2.º Conde de Alvellos in “O Berço Exilado do Príncipe da Beira”.
De facto, com a figura do Rei que exprime a virtude da dedicação ao
bem comum e, como tal, incapaz de iludir a grei, a Comunidade vai fazer
repercutir nas instituições democráticas essa ordem, depois… pouco mais
se exigirá aos políticos.
O Rei será o ‘defensor do equilíbrio da Nação’, como foi estatuído nas Cortes de 1211.
A mais-valia do Monarca consiste nessa união entre virtude e
imparcialidade, sendo a primeira o elemento principal de que depende a
segunda.
Enquanto figura de frente, com um papel preponderante na sociedade,
um Rei em Portugal asseguraria a unidade no seio de um país demasiado
dividido por querelas políticas, por questiúnculas sociais, pelo
individualismo dos políticos eleitos, pelas ‘guerras’ económicas e pela
quase falência financeira. A democracia, a economia e a sociedade
portuguesas seriam bem mais sólidas e desenvolvidas se nestes últimos
104 anos um Monarca tivesse reinado. Enquanto os políticos querem
escrever ou reescrever a História, um Rei facilmente a Encarna. A
política, pela sua natureza dúbia, é uma arena de peleja interminável, e
tem esse destino peculiar de ser sobrecarregada por questões,
interesses e lobbies partidários e económicos, em que todos fingindo
odiar-se cedem-se à vez. Por isso não poucas vezes o bem comum não está
suficientemente garantido.
Assim um Monarca, suprapartidário, funcionaria ainda como um símbolo
de estabilidade, união e continuidade, independentemente de calendários
eleitorais e das mudanças na política partidária e reinaria, como dizia a
nossa velha lei, ’em prol do comum e aproveitança da terra’.
Assim aconteceu, depois das Invasões francesas que delapidaram o País
e ‘fecharam’ o tecido produtivo nacional, depois de uma luta fratricida
que desembocou numa guerra civil, depois do abandono das utopias
doutrinárias. Emergindo da anarquia que o desmantelava desde 1820, com
El-Rei Dom Luís I, Portugal ganha a estabilidade necessária para o
progresso material e iniciou-se um período interessante da nossa
história. Ele foi a estrada de macadame, o serviço postal,
o caminho-de-ferro e o fontanário, numa expressão: ‘política prática’.
Durante o reinado de S.M.F. El-Rei D. Luís I, Portugal corta com o
passado recente, deixa as ideologias vãs, e desemboca, energicamente, na
senda do utilitarismo, do fomento e do desenvolvimento material.
Lembremos o retrato do monarca traçado pela pena de Eça de Queiroz – a quem o escritor chamou ‘O Bom’: ‘para
presidir a esta revolução, que cobriu a terra de instrumentos de
riqueza e radicou na gente a importância dos interesses, el-rei D. Luís
era, pelas favoráveis feições do seu espírito liberal, transigente,
modernizado, acessível às inovações, o chefe mais congénere e perfeito.
Daí proveio, entre o rei, beneficamente inclinado às reformas, e o
reino, que ardentemente se reformava, uma harmonia sólida e séria que,
em vinte e oito anos, não sofreu uma interposição nem foi toldada pela
sombra.’
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica
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