De pé, a Rainha D. Amélia, “armada” com um ramo de flores e dilacerada pela dor, grita para os covardes assassinos do seu marido e do seu filho - "infames, infames!"
Após uma estadia em Vila Viçosa, El-Rei
Dom Carlos, a Rainha D. Amélia e o Príncipe Real D. Luís Filipe,
regressam a Lisboa no final da tarde de Sábado, do dia 1 de Fevereiro de
1908, tendo desembarcado, por volta das 17h00m, na Estação Fluvial Sul e
Sueste, onde eram aguardados por vários membros do governo, além dos
infantes D. Afonso (irmão de D. Carlos) e D. Manuel, (filho de D.
Carlos), que havia regressado dias antes, por causa dos seus estudos.
Apesar do clima de grande tensão que
existia, D. Carlos - ao contrário de muitos políticos actuais que se
escondem no interior de carros blindados e rodeados de guarda-costas -
optou por seguir em carruagem aberta, envergando o seu uniforme de
Generalíssimo, resumindo-se a escolta apenas aos batedores protocolares e
a um oficial a cavalo.
No Terreiro do Paço, às 17h 20m ouve-se um tiro após o que se inicia um forte tiroteio. Um homem descrito como “de barbas e mau aspecto”
– Manuel Buíça, tira uma carabina que trazia escondida sob a sua capa,
põe o joelho no chão e dispara para a rectaguarda do landau régio. O
tiro mata o Rei D. Carlos - trespassa-lhe o pescoço, provocando-lhe
morte imediata. Dispara um segundo tiro na mesma direcção, altura em que
Alfredo Costa, sobe para o estribo da carruagem e atira duas vezes nas
costas de Sua Majestade. O Príncipe Real D. Luiz Filipe, levanta-se
imediatamente e dispara sobre o Costa, mas fica na mira de Manuel Buíça,
que o fere mortalmente. Entretanto surgem mais tiros de diversos
pontos, pois há vários atiradores espalhados na Praça - o landau, que
transportava a família Real, fica cravejado de balas, disparadas pelos
assassinos.
A carruagem, conduzida por Bento Caparica, atingido numa mão, segue, a toda a velocidade, para o Arsenal da Marinha.
Para aqui é chamada a mãe d’El-Rei D. Carlos, a Rainha D. Maria Pia, que ao encontrar-se com D. Amélia parece ter dito “Mataram-me o meu filho” ao que D. Amélia terá respondido: “E o meu também”.
Foi neste dia que mataram a esperança!
Os implicados no Regicídio são: Manuel
Buíça e Alfredo Costa (que morrem no local), Domingos Ribeiro, José
Maria Nunes, Adelino Marques, Fabrício de Lemos, Ximenes, Joaquim
Monteiro, todos com ligações à Carbonária, braço armado da Maçonaria,
alguns, provavelmente iniciados na loja maçónica "Montanha". Há
também mais implicados, considerados como autores morais, como por
exemplo Aquilino Ribeiro e José Maria Alpoim, entre outros.
O objectivo deste atentado era a proclamação da república! Pela força…
33 meses após este crime de 1 de Fevereiro de 2008 - e menos de dois meses depois das eleições
de 28 de Agosto de 1910, onde, num total de 147 (cento e quarenta e
sete) deputados, os republicanos tinham conseguido eleger 14 (catorze) -
é implantado, na cidade de Lisboa, o regime republicano, tendo o resto
do país tomado conhecimento deste facto, por telégrafo…
E quase 105 anos depois
de ter logrado os seus objectivos de chegar ao poder, obtendo uma
mudança por via revolucionária e não democrática pois os republicanos
tinham resultados eleitorais insignificantes (e que, traduz, sem dúvida,
a tão propagada “ética republicana”) o regime republicano (agora maquilhado de “3ª república”)
vigora ainda hoje em Portugal sem nunca ter sido, sequer, referendado e
encontrando-se blindado pois a forma republicana de governo é um dos
aspectos que não podem ser alterados em sede de revisão da constituição
(o que também diz muito sobre a dita “democracia da república”)…
A Europa ficou chocada e revoltada com o
Regicídio, ou não fosse D. Carlos uma figura estimada pelos diversos
Chefes de Estado europeus, sendo a imprensa europeia eco disso mesmo,
atítulo de exemplo cito:
Berliner Tageblatt, Berlim, 3 de Fevereiro de 1908 - "Perante
o absurdo atentado de Lisboa, só se podem proferir palavras de profundo
horror: nenhuma palavra de desculpa, nenhuma frase céptica para
embelezar os factos."
The Morning Post, Londres, 3 de Fevereiro de 1908 - "Foi
cometido no sábado em Lisboa um crime que não tem paralelo no grau de
horror que as notícias sobre ele irão provocar através do mundo
civilizado."
Corriere della Sera, Roma, 3 de Fevereiro de 1908 - "Mas
era um tirano o Rei que mataram? Tirano o jovem príncipe de 20 anos,
exuberante primavera que só pode sorrir? Oh, retórica de Brutos,
envenenados de frases, saturados de ódio imbecil. Mesmo se o Rei fosse
culpado - e isso está longe de ser provado - e que o filho estivesse
preparado para ser culpado arbitrariamente, as vossas pistolas e as
vossas carabinas absolveram-nos."
Também hoje, eu declaro "infames, infames!" todos aqueles deputados - alguns dos quais ainda hoje se passeiam pelo parlamento - que no dia 1 de Fevereiro de 2008,
precisamente um século após este bárbaro assassinato, rejeitaram o voto
de pesar pela trágica morte de D. Carlos e do Príncipe Real D. Luís
Filipe, proposto pelo deputado Miguel Pignatelli Queiroz.
E esses deputados, sem qualquer pudor,
coerência ou exame de consciência, defendem que a soberania reside no
povo, que a exerce segunda as formas previstas na constituição (mas não
se incomodam que o regime em vigor tenha sido imposto pela força e por
meia dúzia, após o vil assassinato de um legítimo Chefe de Estado…),
afirmam-se democratas (quando lhes convém, pois a república portuguesa
que representam impôs-se fazendo, também, tábua rasa da vontade popular
expressa em eleições…) e são acérrimos defensores dos direitos humanos
(só para alguns casos, mas não para o bárbaro assassínio de um pai e de
um filho, que seguiam num coche aberto, com a mulher daquele e mãe
deste, armada com um ramo de flores…).
Para a história fica
que os deputados do PS, do PCP, do BE e do PEV rejeitaram, em bloco, o
voto de pesar sobre os cem anos da morte do Rei D. Carlos, que os grupos
parlamentares das outras forças políticas concederam liberdade de voto e
os deputados do CDS-PP e maioria dos deputados do PPD/PSD – com
abstenção de sete deputados da bancada social-democrata, entre os quais,
João Bosco Mota Amaral, Costa Neves, José Pedro Aguiar Branco, Emídio
Guerreiro e Sérgio Vieira – votaram favoravelmente.
Para memória futura recorda-se
algumas das, no mínimo lamentáveis, declarações proferidas pelos
parlamentares, que não sufragaram o voto de pesar, pelo homicídio de um
legítimo Chefe de Estado.
Alberto Martins, na altura líder da bancada do PS, afirmou que aprovar o documento seria dar «um voto contra a República» e que «Não nos cabe a nós julgar as pessoas na história, fazer qualquer juízo moral sobre a história ou reescrever a história».
Desde quando condenar um
assassínio é um voto contra a república? E porque, na opinião deste
deputado, não cabe aos representantes dos portugueses “fazer juízos
morais” é que o país está como está…
Para Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda, a Assembleia da República, não devia ter uma «posição oficial sobre o Rei D. Carlos ou sobre o Regicídio», pelo que recusava o voto de pesar, afirmando ainda que «Aprovar
este voto seria vincular a Assembleia da República, fazer com que os
órgãos do Estado tenham uma visão oficial sobre a história».
Mas a Assembleia da República aprovou um voto de pesar pelo falecimento, por exemplo, de Yasser Arafat (voto de pesar nº 220/IX de 18/11/2004) e de Hugo Chávez (voto de pesar nº 110/XII de 8/3/2013), assumindo,
assim, uma posição a respeito de figura públicas – uma do Médio Oriente
e outra de um país da América Latina - sobre as quais a história não é
consensual nem pacífica…
António Filipe, do PCP, rejeitou o voto de pesar uma vez que recusava qualquer «tentativa de reescrever a história» ou de «ajustar contas com o passado» e que «Os factos históricos não podem ser objecto de julgamento político, que um século depois não faz qualquer sentido».
Sentir pesar pela morte de
alguém é diferente de julgar e condenar nos tribunais os responsáveis
por essa morte – isso sim, é que é ajustar contas com o passado…
Que El Rei D. Carlos e o Príncipe Real D. Luís Filipe descansem em Paz!...
(1) Sobre este tema veja-se o que já escrevemos: O Regicídio - “Lisbon’s shame!”
http://risco-continuo.blogs.sapo.pt/5067
Não, não esquecerei este hediondo crime! O Regicídio.
http://risco-continuo.blogs.sapo.pt/nao-n
Publicado por por José Aníbal Marinho Gomes em Risco Contínuo
Paz ás suas Almas. SS AA RR El-rei D. Carlos I e Luiz Filipe. Viva el-Rei Nosso Senhor
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