No final dos anos 90 tive a oportunidade de testemunhar em Caracas e na
ilha Margarita, onde se desenrolava uma Cimeira Ibero-Americana, um dos
principais argumentos a favor da chefia de Estado Real: o impacto da
visita do rei de Espanha à Venezuela, ex-colónia, foi arrasador e o
furor emanava das ruas engalanadas pelo povo exultante. O facto é que a
instituição monárquica espanhola, através do seu prestígio, teve um
papel preponderante na afirmação da Espanha moderna no mundo e constitui
por estes dias o elemento unificador do frágil puzzle de nacionalidades
que a compõe. Sorte a deles. Se é verdade que nos últimos anos tudo
vinha correndo mal a Juan Carlos, todas as sondagens hoje apontam para o
apoio de larga maioria dos espanhóis ao regime sufragado em 1978. Nesse
sentido, segundo o “El País”, e salvo algum imprevisto, o príncipe Filipe será proclamado rei pelo parlamento com cerca de 91% dos votos
dos deputados eleitos. Sorte a deles. Ora acontece que a imprensa tem
dificuldade em lidar com este panorama, que é uma afronta aos
preconceitos que sustentam o nosso disfuncional regime
semipresidencialista e o tão perorado inquilino do Palácio de Belém
eleito por pouco mais de 21% dos portugueses. E é porque sou português e
vivo numa triste e falida república, com as suas instituições
desacreditadas e em decadência, que este ponto me incomoda de
sobremaneira: a debilidade do nosso regime contrasta com a
grandiloquência da instituição real dos nossos vizinhos. E isso, por
oposição, torna-nos mais pequenos e mais irrelevantes na cena
internacional. É esta realidade que os media portugueses têm medo de
encarar, preferindo salientar a marginal, posto que legítima,
contestação dos republicanos, ignorando duas cruas realidades: a de que
foi a monarquia que permitiu consolidar a democracia em Espanha e de que
a república se instaurou em Portugal por meios violentos e
antidemocráticos. Azar o nosso.
Publicado por João Távora, Consultor de comunicação em iOnline
Sem comentários:
Enviar um comentário