A situação presente, a sua dificuldade e
urgência, revela-nos eloquentemente a insuficiência de mecanismos
estratégicos na democracia. Somos num sistema político que debalde tem
procurado em si mesmo o equilíbrio entre a cooperação e o combate
político.
A
política decorre na livre contenda de interesses e opiniões. Os
conflitos expressam-se na discussão democrática. O nosso modo de viver é
plural. Mas importa identificar, colectivamente, formas políticas
comprovadas, que permitam uma democracia mais completa, de modo a
resolver suave, alongada e harmoniosamente os persistentes problemas,
sem sofrimentos excessivos e tantas vezes inúteis. Há objectivos comuns à
democracia que requerem uma consideração comum, não podem vogar ao
sabor da facção.
Sem
uma representação do todo nacional que afirme a lógica da participação
além da lógica do confronto, sem um órgão que acolha os acordos além dos
órgãos em controvérsia, sem voz estratégica para objectivos políticos
comuns à democracia, sempre nos encontraremos numa conjuntura
continuamente fragmentada, em que não amadurecem e se afirmam
suficientemente os propósitos políticos. Põe-se, pois, a questão de
regime.
Antes
de ser uma crise económica e financeira esta é uma crise da sociedade
que vivemos e da política que praticamos. Quando periga o financiamento
às políticas sociais, quando não há mobilização de vontades e créditos,
quando a política perde prestígio e, quando o fatalismo é imposto pela
força dos factos e por uma lógica de inevitabilidade, então instalou-se
uma crise política que requer uma acentuada descontinuidade.
Este cenário de esgotamento não é
apenas correspondente à diferença entre as expectativas de há algum
tempo atrás e a situação presente, não está somente relacionada com
problemas recentemente emergentes, mas deve-se também a condições
institucionais e políticas que podem gerar tais resultados. Estamos numa
fase em que a descontinuidade salienta-se com evidência e estrondo a
vários níveis, na evidência do desemprego e falência de projectos de
vida, no peso da dívida acumulados, na sociedade que está sem
perspectiva.
Encontramo-nos
num circunstância que apela a uma profunda renovação. Estamos numa
época de transição, para uma sociedade e uma economia diferentes, mas
sem um modo social e político alternativo ou consoante com as
aprendizagens havidas. Portugal conseguirá enfrentar estas dificuldades,
se as condições adversas presentes constituírem a oportunidade de uma
transformação adaptada às realidades de amanhã. Mas, sem uma mudança
vigorosa na nossa democracia, nada mais conseguiremos alcançar.
Associo
a monarquia ao sucesso democrático, ao sucesso social e ao sucesso
económico, pois a Instituição Monárquica é quem melhor pode representar a
história, a unidade nacional, a equidistância e a continuidade das
políticas.
Fonte: Caderno Monárquico
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