"Excerto do livro "Monumentos Portugueses em Timor-Leste" [da autoria de Rui Fonseca]
Carta
recebida pelo adido militar na Embaixada de Portugal em Díli, Cor. C.A.
(o português foi ligeiramente corrigido para melhor inteligibilidade do
texto )
"EX. EXCELENCIA SENHOR CHEFE DE ACAIT QUE ESTÁ EM DILI TIMOR LESTE ... Ver mais
1.
O meu Pai, Marcelino Babo, foi Soldado de Segunda Linha no Ano de 1973
até 1975, ou seja, trabalhou cerca de 3 anos como Soldado de Segunda
Linha.
2.
O meu Pai Marcelino Babo, em 1975, recebeu ordem de Estado Português no
Posto de Lete-Foho para fazer Segurança na Fronteira em Maliana, no
Quartel Segunda Linha de Tunu-Bibi.
3.
Numa manhã cedinho, mais ou menos às 5 horas, eles fizeram patrulha na
Fronteira. De repente apareceram os Tropas da Indonésia de arma na mão.
Dali eles voltaram para quartel, arrumaram as coisas deles e fugiram,
cada qual seguindo o seu rumo, menos o meu Pai Marcelino Babo que não
fugiu ainda, por razão de a Bandeira Nacionalidade Portuguesa ainda esta
no ar. Dali ele desceu a Bandeira Nacionalidade Portuguesa, embrulhou
muito bem e fugiu para Posto Lete-Foho, e seguiu para casa onde ele
morava.
4.
Em 1978 Os Tropas da Indonésia foram a nossa casa, a fazer inquérito ao
meu Pai Marcelino Babo, sobre a sua arma bem como a, negou que tanto a
arma como a Bandeira de Nacionalidade Portuguesa, não estava na mão
dele. Por isso os Tropas de Indonésia ficaram furiosos e deram pancadas,
coronhadas com arma até meu Pai Marcelino Babo ficar aleijado. O meu
Pai Marcelino Babo, entregou então a arma para as Tropas da Indonésia,
menos a Bandeira Nacionalidade Portuguesa é que ele não entrega. Com o
sofrimento provocado pela agressão, ele veio a morrer no ano de 1982.
5.
Antes de o meu Pai Marcelino Babo morrer, o meu Pai ainda me chamou e
como eu sou a filha mais velha, o velhote disse para mim: "que essa
Bandeira de Nacionalidade Portuguesa, e você como minha filha mais
velha, você tem de guardar muito bem, e um dia mais tarde, quando chegar
o Dono dessa Bandeira , você tem de entregar outra vez ao Dono. Porque
eu sei muito bem que o Dono dessa Bandeira, cedo ou tarde há-de chegar,
há-de voltar".
...E
a bandeira nacional foi entregue na Embaixada de Portugal, pela filha
do Marcelino Babo que não quis que a mesma fosse apoderada pelos
invasores. Durante esse tempo, ficou escondida em vários locais,
servindo de travesseira, colchão ou mesmo enterrada: - O pedido foi
cumprido! Exemplos destes felizmente para os Portugueses e Timorenses
não foram únicos. Em muitas casas lulics ainda se encontram bandeiras e
artefactos dos Maiores de ambos os povos, que um dia, numa prova de
confiança, foram entregues aos Timorenses, pela sua proximidade,
dedicação e respeito às gentes lusitanas, representadas num símbolo que
entenderam sempre como um elemento de coesão nacional. Foi assim o Timor
Português. "
Fonte: Lifau 500 Anos da Chegada dos Portugueses a Timor
Lopo Maria Albuquerque, facebook
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