A Esquadra Real Portuguesa
Composição da Esquadra Real Portuguesa
29.11.1807 -
23.12.1808
A decisão para o embarque só foi tomada quando chegou a Lisboa, em 24 de Novembro de 1807, um exemplar do jornal francês Moniteur, enviado de Londres pelo Embaixador Dom Domingos de Sousa Coutinho, em que Napoleão afirmava que a casa de Bragança tinha deixado reinar Portugal. A 26 de Novembro, com o exército do General Junot em Abrantes, o Governo tem conhecimento da invasão e publica um decreto onde eram expostos os motivos que levavam o Príncipe Regente a partir para o Brasil. No mesmo dia iniciou-se o embarque que se concluiu no tempo recorde de 48 horas. De notar que os preparativos secretos desta partida, com a transferência de mobiliário, arquivos, e toda a volumosa documentação necessária à gestão do Reino, haviam sido iniciados cerca de um ano antes... Os primeiros navios que suspenderam, no início dos alvores de 28, foram as naus ‘Medusa’ e ‘Martim de Freitas’ mareando de forma a passar junto dos 11 navios russos do Almirante Seniavin então arriados em Lisboa e fundeados na Junqueira, com o intuito de se aperceberem das suas intenções, estes, apesar de serem aliados de Napoleão, seriam espectadores passivos da saída dos navios. A esquadra, detida por ventos contrários saiu a barra a 29 de Novembro, 18 horas antes da entrada do General Junot em Lisboa. Constava de 8 naus, 4 fragatas 12 brigues e uma galeota, acompanhada de 31 navios mercantes com mais de 15.000 pessoas, comandada pelo Chefe de Esquadra Manuel da Cunha Sottomayor. Quando o General Junot entrou em Lisboa só teve ocasião de observar, ao longe, a esquadra portuguesa. Os franceses perdiam assim a primeira cartada, não aprisionavam a Família Real nem se apoderavam da esquadra portuguesa. Dom João deixava ordens para que se não resistisse aos invasores, evitando o inútil derramamento de sangue e deixava nomeada uma Junta de Governo. No Tejo tinham ficado ainda 5 naus a necessitar reparações e os navios russos do Almirante Seniavin, no entanto a grande maioria das unidades das marinhas de comércio e de guerra portuguesas estava fora do alcance dos franceses. Embora muito castigados por sucessivos temporais de grande violência (que lhes causaram graves avarias) chegaram todos ao seu destino com duas excepções; a nau 'Príncipe do Brasil' que arribou a Plymouth para receber fabrico e a escuna 'Curiosa' que regressou a Lisboa com água aberta. Isto reflecte, por um lado, a qualidade e experiência dos seus oficiais e guarnições, e por outro, a excelência dos seus projectos e dos métodos de construção naval portuguesa que, desde o século XV preparava navios para navegarem no alto mar em condições de tempo muito difíceis. As forças navais que saíram do Tejo, sob o comando do Vice-Almirante Manuel da Cunha Sottomayor, sendo Ajudante-General o Chefe de Divisão Joaquim José Monteiro Torres, compunha-se das seguintes unidades: Naus de linha, ‘Príncipe Real’ comandada por Francisco José do Canto e Castro, ‘Rainha de Portugal’ comandada por Francisco Manuel de Sottomayor, ‘Príncipe do Brasil’ comandada por Francisco de Boorja Salema ‘Medusa’ comandada porHenrique da Fonseca Prego, ‘Conde Dom Henrique’ comandada por José Moreira de Almeida, ‘Martins de Freitas’ comandada por Dom Manuel Meneses, ‘Afonso Albuquerque’ comandada por Inácio da Costa Quintela, ‘Dom João de Castro’ comandada por Dom Manuel José. Fragatas, ‘Minerva’ comandada por Rodrigo José Ferreira Lobo, ‘Golfinho’, comandada por Luís da Cunha Moreira, ‘Urânia’ comandada por Dom João Manuel. O brigue ‘Vingança’ comandada por Diogo Nicolau Keating. A escuna ‘Curiosa’ comandada por Isidoro Francisco Guimarães. E a ‘Thétis’ comandada por Paulo José Miguel. Na nau ‘Príncipe Real’, que era a de maior tonelagem, embarcaram a Rainha Dona Maria I, o Príncipe Regente, o príncipe da Beira e mais os infantes Dom Miguel e Dom Pedro Carlos seguidos pelos marqueses da Aguiar, Vargas e Torres Novais, e os conselheiros de Estado Dom Fernando José de Portugal. Na nau ‘Afonso Albuquerque’ vieram a Princesa regente, a princesa da Beira e as infantas Dona Maria Isabel, Dona Maria Assunção e Dona Ana de Jesus Maria, acompanhadas pelos condes de Caparica e Cavaleiros. Na nau ‘Rainha de Portugal’ se acomodaram a Princesa do Brasil, viúva, e as infantas Dona Isabel Maria, Dona Maria Francisca e Dona Mariana, acompanhadas pelo marquês de Lavradio. Nas outras embarcações vieram os seguintes titulares: Anádia, Belmonte, Belas, Cadaval, Penalva, Pombal, Pombeiro, Redondo, os conselheiros de Estado Antonio de Araujo de Azevedo, Dom João de Almeida, Dom Rodrigo de Souza Coutinho, General João Forbes Skellater, desembargador do Paço Tomas Antonino de Vilanova Portugal e monsenhor subdiácono Joaquim da Nóbrega. O embarque da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 29 de Novembro de 1807, Don João e a família real e mais de 15.000 pessoas embarcavam em Portugal com destino ao Brasil, os navios ingleses que navegaram com a esquadra portuguesa foram o 'London', 'Marlborough', 'Monarch' e o 'Bedford', sob o comando em chefe do Vice-Almirante Grahan Moore. Ao todo, mais de 70 navios haviam deixado o porto de Lisboa. A frota portuguesa tinha aproximadamente 55 navios, dentre estas, um navio de mantimentos, 25 navios mercantes que costumavam fazer o comércio com o Brasil e 20 navios de guerra levando fuzileiros navais para a protecção da frota. Os restantes eram navios ingleses encarregados de escoltar todo o grupo. Não havia restado nenhuma embarcação de peso no porto de Lisboa que pudesse ser confiscado pelos franceses. Além dos navios que partiram, o resto da frota portuguesa estava retido nos portos das colónias por ordem real para que não fossem capturados. Antes da saída da frota, tinha partido, na frente uma embarcação menor e mais veloz o brigue ‘Voador’, com a missão de avisar o Vice-Rei do Brasil que a corte portuguesa estava a caminho do Rio de Janeiro para ali se instalar.
Em Lisboa nesse dia de 29 de Novembro de 1807, chegava a notícia de que tropas francesas comandadas pelo general Junot tinham invadido Portugal pela fronteira da Beira Baixa pela linha direita do Tejo, essa notícia levou o pânico à corte. Os fidalgos organizaram-se e conseguiram levantar milhões de cruzados em ouro e diamantes, além de cerca da metade do dinheiro em circulação no reino. Conta-se que a única mostra de lucidez foi dada por Dona Maria I, a louca mãe de Dom João. Depois de 16 anos de clausura devido à sua demência, a rainha-mãe gritava aos condutores dos coches que os conduziam: "não corram tanto, querem que todos pensem que estamos a fugir?" A situação nos navios era muito difícil. As embarcações tinham saído com os porões superlotados e três vezes a capacidade normal de pessoas a bordo. O congestionamento interno a bordo era total, havia gente e coisas espalhadas por todos os lados. Não havia camas para todos e várias pessoas dormiam no convés, enfrentando as chuvas e o calor aumentava à medida que se aproximavam dos trópicos. A água e a comida foram racionadas para que não faltassem até ao final da viagem. Na confusão do embarque, muitos ficaram apenas com a roupa do corpo. Os que tinham embarcado as bagagens não conseguiram encontra-las. Era muito difícil manter a higiene a bordo, pois não havia água para o banho para tantas pessoas e a pequena tripulação não conseguia dar conta da limpeza dos navios. Essa situação também atingia a família real e, logo um surto de piolhos fez com que aprincesa Carlota Joaquina e as damas da corte tivessem de rapar as cabeças e enrola-las em faixa para evitar a propagação. O Rio de Janeiro passava a ser a sede da instalação da Corte no Brasil. Vê-se o Palácio dos Vice-Reis onde se alojava a realeza. Don João deixará uma declaração ao povo português que sua partida era preferível a uma resistência que certamente, seria derrotada. Dizia que tudo fizera para manter a neutralidade do reino de Portugal, mas as tropas de Napoleão estavam a caminho da capital com a intenção de derruba-lo, e por isso ele tinha de partir com corte até que a paz novamente se restabelece-se. Nomeava uma regência para governar o país enquanto estivesse fora. Com a partida da família real, a grande vitoriosa foi a Inglaterra. O primeiro-ministro inglês William Pitt, discursou no parlamento, afirmando: "transferindo-se o trono português para o Brasil o Império da América do Sul e o da Grã-Bretanha ficarão ligados eternamente, fazendo essas duas potencias um comércio exclusivo". Logo no princípio da viagem surgia uma tormenta que dispersou quase toda a esquadra. Um veleiro O ‘Voador’, chegou primeiro ao Brasil, entrando no Rio de Janeiro no dia 14 de Janeiro de 1808 com uma viagem de quarenta e seis dias. Pouco depois fundearam aí outros navios com parte da família real, ao passo que o príncipe regente chegava à Bahia, desembarcando a 23 de Janeiro de 1808. Esses navios fundearam na Bahia às 4 horas da tarde do dia 22 de Janeiro, desembarcado a família real no dia 24 de Janeiro às 5 horas da tarde. A viagem para o Rio de Janeiro só iria ocorrer 30 dias depois do desembarque. Da Bahia, Dom João seguiu para o Rio de Janeiro.
A chegada do Príncipe Dom João ao Brasil deu inicio a uma nova época na História do Brasil, pois a colónia foi a grande beneficiada com a transferência da Corte. A presença da administração real criou pouco a pouco condições para a futura emancipação política da colónia O Brasil que o regente e sua Corte encontraram tinha dezassete capitanias e uma população estimada entre 3 a 4 milhões de habitantes, não contando os índios não aculturados. Pouco menos da população era composta de escravos negros e pardos. Pouco mais da metade era constituída de pessoas livres, brancos em sua maioria. No total apenas um terço da população era de brancos. A sociedade era tipicamente agrária, e apesar do crescimento urbano do último meio século, as cidades eram modestas e muito precárias. Salvador possuía 60.000 pessoas, Recife 30.000, São Paulo 20.000. Com a instalação da Corte, no Rio de Janeiro, a cidade ultrapassou os 100.000 habitantes, o que agravou suas carências de infra-estrutura, como moradias, abastecimento de água, saneamento, saúde. A vinda do governo português para o Brasil facto único na história dos colonizadores europeus da América, não alterou radicalmente esse quadro. Mas a permanência de quase década e meia da Corte no Rio de Janeiro e a transposição para a colónia dos principais órgãos da Estado metropolitano, fizeram do Brasil nesse período, o centro do Império Português, situação única no mundo e na história universal. Entretanto a presença portuguesa no Brasil mudou, o equilíbrio das relações colónia metrópole a favor da colónia na sua maior autonomia e, no final, de sua emancipação. Ainda em Salvador, Dom João assinou a Carta Régia de 28 de Janeiro de 1808, decretando a abertura de todos os portos brasileiros, sofrendo grande influência de José da silva Lisboa, o Marques de Cairú. Ficava liberada a importação de quaisquer mercadorias transportadas em navios portugueses ou estrangeiros em paz com a Coroa Portuguesa. Portugal pagaria 16% de taxa alfandegária e os outros países 24%. O decreto de abertura dos portos, colocou fim ao monopólio português sobre o comércio brasileiro, que era a base da política colonial portuguesa. Vários factores contribuíram para abertura dos portos no Brasil. O Estado Português até então mercantilista, convencera-se repentinamente das vantagens do liberalismo económico, porém, estavam radicalmente enganados. A medida aparentemente liberal surgiu da necessidade de se conseguirem recursos financeiros para a implantação da administração na nova sede da Coroa sendo a cobrança das taxas alfandegária o melhor meio de obtê-la. As pressões inglesas aliadas às dos proprietários locais tornavam-se acirradas, desencadeando os factores que em conjunto levaram ao fim do pacto colonial. A ofensiva contra os estatutos coloniais prosseguia. Em 1º de Abril de 1808, Dona Maria I revoga o alvará de 1785, liberando o estabelecimento de indústrias e manufacturas no Brasil. Na prática essa providência não atingiu seus objectivos, dava-se liberdade industrial e não condições para o desenvolvimento de indústrias, faltava o capital e um mercado consumidor interno. Além disso, sem protecção alfandegária, tornava-se impossível competir com os produtos britânicos.
A Esquadra Real Portuguesa
Comandante em Chefe da Esquadra Real
Príncipe Regente Dom João
13 navios de linha, 4 fragatas, 5 brigues, 3 escunas e 3 charruas
Total 28 navios de guerra - 1.410 peças de artilharia
Comandante da Esquadra
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