Neste
regime em que somos democraticamente forçados a viver, há curiosas
ambiguidades que seriam apenas divertidas, se não fossem tão trágicas
para a vida social e política.
O
chefe de Estado que alguns elegeram comemora, não a data fundacional da
nacionalidade, mas a instituição violenta do próprio regime, em locais
fechados, com lotação cada vez menor (no ano passado, no Pátio da Galé,
este ano, em sala da Câmara Municipal, para o ano, talvez, num quarto
esconço ou numa casa de banho...), embora desta feita com um maior
cuidado no içar a bandeira da república pelo lado correcto. Enquanto
isto, os ex-presidentes, com uma honrosa excepção, desataram a fazer
públicas e desavergonhadas declarações políticas, como se ainda tivessem
o direito de opinar, após terem exercido o cargo durante dez anos cada
um!
E
pasme-se com as declarações do penúltimo abencerragem, que entende que
estes governantes, que foram, como outros antes deles, eleitos por
maioria dos votos dos Portugueses, devem ser julgados por outra Justiça,
que não esta, após abandonarem os cargos que exercem!
Porque
suponho que se não estivesse a referir à justiça Divina, a que ninguém
escapa, que justiça quereria ele que fosse aplicada a este governo, que
nos tem esmifrado para pagar os muitos desmandos que se têm vindo a
praticar, há longos anos, nesta nossa Pátria?
Não
discordo do princípio, e até acharia recomendável e higiénico que
viesse sendo aplicado de há quarenta anos para cá. Pelo menos, teríamos
sido poupados às suas muitas diatribes...
E
que dizer dos governantes anteriores, que longe de serem os únicos
responsáveis, estão hoje impunes e ufanos nas suas vidinhas privadas,
até com direito a comentarem na TV o que fazem os seus sucessores, para
cumprir memorandos que eles próprios assinaram?
E
porque aceitaram e usufruem de um conjunto de regalias que o povo
pagante não tem, como motoristas privados, polícia à porta dos
escritórios, instalações e secretárias? Certamente que não lhes pagamos
tudo isto, para os ouvirmos perorar.
Ao
menos os Reis, que aprenderam muito com o exemplo dos seus
antecessores, não criticam os sucessores, pois costumam morrer ao
serviço dos Povos, sem prebendas nem mordomias…
Dom Vasco Telles da Gama
* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.
Texto publicado no Diário Digital a 15-Out-2013
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