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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

domingo, 28 de julho de 2013

A RAINHA, O LIVRO E O DIRECTOR DO PALÁCIO DA AJUDA

A Rainha. Novecentos anos de história deram a Portugal o tempo necessário para a manifestação de personalidades hoje totalmente esquecidas, mas nem por isso menos determinantes para a afirmação internacional do país que somos. Em períodos onde pesou de sobremaneira o perigo da ocupação estrangeira, o país contou com mulheres exemplarmente exercendo a regência. Na sua grande maioria estrangeiras, cumpriram a função da qual dependia a independência de Portugal. Este é o caso de D. Luísa de Gusmão, talvez a soberana que mais perigos enfrentou durante a sua chefia do Estado, colocando Portugal acima de quaisquer considerações familiares e da sua pátria de origem. No hoje quase obsessivo assunto da assistência social, as rainhas portuguesas marcaram indelevelmente a atenção votada pela Coroa aos mais desprotegidos, em épocas onde a vileza de homem era sobretudo considerada pelo extracto, o berço - ou a ausência deste - onde tinha nascido. A lista é longa, contando-se a Rainha Santa Isabel, D. Filipa de Lencastre, D. Leonor, D. Estefânia e D. Maria Pia, entre aquelas que a memória popular não deixa esquecer. Contudo, quando nestes tempos convulsos alguém se refere à Rainha, a personalidade citada é incontornavelmente D. Amélia. Talvez por ter sido aquela que mais próxima de nós está pela contagem das gerações - as nossas bisavós tiveram-na como referência quotidiana num país constantemente à beira do abismo -, será uma verdade reconhecermos a sorte de podermos reconhecê-la de imediato. Existem milhares de fotografias de D. Amélia de Orleães e mesmo que assim não fosse, restava-nos a grandeza da obra que abnegadamente ergueu num país preocupado com umas tantas pequenezes que insistentemente devoraram todo o século XX e, num misto de mania e teimosia, prosseguem na senda dissolvente da nossa própria - se é que ainda existe - consciência nacional. D. Amélia significa uma grandeza quase assustadora neste Portugal dado a gente timorata quanto à adopção das novidades, por muito evidentes e benfazejas que estas sejam. Além dos já clássicos autores seus contemporâneos, pelos politicamente rancorosos considerados como desdenháveis panegiristas, poucas biografias de D. Amélia, a Grande, podem ser consideradas como obras fiáveis e distantes das paixões, ódios ou meros intuitos comerciais à semelhança das revistas de um mundo alegadamente cor de rosa e sem qualquer substância.

Folheei o livro do José Alberto Ribeiro, por sinal o novo responsável pelo Palácio da Ajuda. A leitura na diagonal de umas tantas páginas, chama-nos a atenção pelo constante desejo de dar voz a D. Amélia, recorrendo às suas palavras. Se é bem certo que talvez nos tenham sido omissas algumas passagens propiciadoras de novas controvérsias, aquilo que o autor nos deixa é a personalidade de uma mulher antes de tudo consciente dos seus deveres. A banalização que o padronizar "por baixo" impõe como norma, talvez incomode alguns leitores pouco interessados no tentar compreender da mentalidade da época. Se a isto acrescentarmos a volatilidade da política do Portugal do virar do século e as profundas transformações que muito alteraram o país nos últimos cinquenta anos de vigência da Monarquia Constitucional, torna-se então praticamente impossível vislumbrar aquele complexo todo que garante a verdade, não permitindo interpretações ao sabor dos apetites políticos ou adequação à moda de um dado momento. José Alberto Ribeiro exaustivamente traça o percurso da Rainha em Portugal e de forma ainda mais interessante, a vida e os afazeres de D. Amélia durante o longo período de exílio, metade da sua existência, em que ao contrário daquilo que dela muitos esperariam, jamais se desinteressaria do seu país. Da autoria de Rui Ramos, a excelente biografia de D. Carlos será decerto uma obra que inevitavelmente acompanhará esta agora apresentada pelo director do Palácio da Ajuda, ajudando-nos a compreender, mesmo de forma muito ténue e sempre aberta a outras contribuições vindouras, as personalidades do casal real e tão importante como a a curiosidade pelos reis, o Portugal que fomos e em alguns aspectos ainda continuamos a ser. 

Quanto ao Palácio da Ajuda, esta grande mole de pedra é o elefante branco dos vários regimes que assistiram à sua construção, período de fugaz opulência e agora, o calamitoso e desnecessário decair  de um símbolo. Grotesca e sintomática é a forma como dele se aproveitam as nossas autoridades, nada envergonhadas por receberem o mundo num espaço que poderia ser bem diferente. A total ausência de vontade e de imaginação para a gestão ou angariação de recursos, é a constante daquele que sem dúvida poderia ser o mais importante espaço público da capital ortuguesa. Neste momento, lembro-me de uma carta enviada há muitos anos ao então 1º Ministro Cavaco Silva, alvitrando-lhe uma opção mais económica e culturalmente mais valiosa que aquela optada com o fim de dotar a capital com um espaço cultural de renome. Em vez do projectado CCB, sugeri então a conclusão das obras da Ajuda e o pleno aproveitamente da nova área a construir para as actividades  apontadas pelas autoridades como absolutamente necessárias. Nem sequer uma acusação de recepção de missiva alguma vez chegou às minhas mãos. É este o regime que temos e a ele estamos resignados.

Voltando à Rainha D. Amélia, será com todo o interesse e atenção que hoje mesmo inciarei uma atenta leitura do livro.

publicado por Nuno Castelo-Branco, em Estado Sentido

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