PAIVA COUCEIRO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS EM 1906

Paiva Couceiro nunca gostou de política nem de políticos. Apesar disso foi eleito para a Câmara dos Deputados em 1906. Publico aqui uma das suas intervenções, contada por António Cabral in "O Agonizar da Monarquia":

A par d'estes episódios reconfortantes, o parlamento offerecia outros d'um cómico irresistível. Na sessão seguinte da câmara dos deputados, o sr, Henrique de Paiva Couceiro, official valentíssimo, colonial distinto, carácter que sempre se impôs a todos pela sua lealdade e pela sua rectidão, falava, com proficiência e brilho, sobre a província de Angola. Cheio de razão, protestava contra uma phrase proferida na camara dos pares por Teixeira de Sousa, que dissera ser aquela província um cancro para o nosso domínio ultramarino. O sr. Paiva Couceiro, em palavras calorosas e revelando profundos conhecimentos do que era a nossa África, rebatia a asserção de Teixeira de Sousa, demonstrando a falta de base com que fora feita. De repente, ouve-se uma voz, do lado da minoria, interromper: — V. Ex.a dá-me licença?
 

Quem era o interruptor? — Era o official da Armada, sr. Jayme de Sousa, deputado regenerador, “teixeirista” acérrimo, que, mais tarde, adheriu comodamente á republica, depois que esta triumphou!
 

— V. Ex.a dá-me licença? — disse elle, levantando-se.
 

— Não, senhor ! Não dou licença ! — exclamou o sr. Paiva Couceiro.
 

O sr. Jayme de Sousa ainda insistiu, mas o sr. Couceiro repetiu a sua negativa com tal intimativa e com tal violência que o sr. Jayme de Sousa houve por bem calar-se e sentar-se. Depois, tendo a palavra na ordem do dia, ia a referir-se ao caso, mas a presidência não lh'o consentiu, inscrevendo-se elle para antes de se encerrar a sessão. Houve risos na câmara. Ria-se, a gente, ali, algumas vezes.

Por Miguel Paiva Couceiro em "Henrique Paiva Couceiro - admiradores".

Guilherme Koehler 

A MONARQUIA SEM TABUS (Nem correntes, Nem mordaças).