Cavalaria portuguesa contra um terço espanhol
PROF. VERÍSSIMO SERRÃO:
«As pátrias só morrem quando os seus filhos as deixam morrer, ou
quando os estranhos lançam o vilipêndio sobre elas. Não dou novidade
quando digo que a Pátria, mais do que o local em que se nasce, é
um vínculo de sangue, ao mesmo tempo de inteligência e de amor, que não
radica no presente, mas aglutina todas as gerações passadas e futuras.
Se tivermos consciência de que existe um fio condutor, de que somos
apenas um elo a ligar as gerações, digamos que uma pátria não morre. Ela
poderá ter momentos de fraqueza, mesmo de envelhecimento, pois nos
povos, como nos homens, não existe só a grandeza. Em certos períodos,
sem sabermos porquê, vêm à luz reacções colectivas que revelam todo o
negrume da alma humana. Mas uma pátria não morre, se os seus filhos o não consentirem.
Quando são acometidos de males, de doenças, de momentos de aflição,
os homens acreditam na ciência ou na religião. Mas todos sentem dentro
de si algo que os impele a viver e a superar a crise. Com os povos dá-se
a mesma coisa, têm um forte instinto de conservação e de sobrevivência,
que os leva um dia a resgatarem-se das vilanias que por vezes cometem. Por isso, após uma época de crise, sobrevêm uma época de regeneração, muitas vezes em piores condições, frequentemente com os povos mais debilitados.
Mas quando sentem em perigo a ideia nacional que os une, os povos continuam o seu caminho à procura daquilo que os levará à redenção. Esta, para uma Pátria, traduz-se na continuidade, na permanência. Só na aceitação de três estados de espírito, diversos mas que se completam, podem os povos permitir a unidade temporal que define e dá realidade a uma Pátria: por um lado, reconhecimento e admiração pelo passado; por outro lado, uma forte convicção no presente. Por fim, a esperança de que o futuro seja o prolongamento do sentido histórico que define a Pátria como consciência nacional.
Por isso, se me pergunta[m] se as pátrias podem morrer, a minha resposta só pode ser uma: mesmo que os inimigos as queiram destruir e alguns dos seus filhos as abandonem àquela sorte, o nosso dever é resistir, não permitindo que a terra onde nascemos e vivemos possa morrer, por falta de braços e de corações que a defendam.»
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