COMEÇA A VIAGEM
Era uma vez um povo de marinheiros e de heróis, o povo português, o
nosso povo, que já lá vão muitos anos – mais de quatrocentos – quis
descobrir o caminho marítimo para a Índia. A Índia aparecia então, aos
olhos de todos os Europeus, como terra esplendor e riqueza, que todos os
homens desejam, mas onde era difícil, quase impossível chegar.
Quatros pequenos navios, - tão pequenos sobre o imenso, ignorado Oceano!
– quatro naus comandadas pelo grande capitão Vasco da Gama, lançaram-se
através do Atlântico, só conhecido até ao Cabo da Boa Esperança,
dobraram esse Cabo e puseram-se de vale para a região que demandavam,
O vento era brando, o mar sereno. Até então a viagem correra sossegada.
Mas os perigos seriam constantes, a travessia arriscada, a viagem
longa. E ninguém sabia ao certo o rumo a seguir, pois nunca outra gente
se atrevera sequer a tentar tão comprida e custosa navegação.
Só a coragem e a audácia dos Portugueses seria capaz da proeza heróica!
Iam os barcos já na costa de Moçambique, rápidos, entre a branca espuma das ondas.
A Índia estava longe.
Mas o caminho para alcançá-la era aquele, diziam os sábios e
marinheiros. – e decerto lá chegariam Vasco da Gama e os seus marujos,
se o vento e o mar lhes fossem favoráveis e, sobretudo, se a coragem os
não abandonasse.
Ai deles, porém!
Sempre que um povo ou um homem
tenta desvendar e conhecer paragens até então ignotas, ou realizar um
acto nobre e grande, parece que as forças da Natureza, ou a inveja dos
outros homens, tudo fazem para os não deixar vencer …
Iam senti-lo e sabê-lo bem os nossos temerários antepassados!
E antes de senti-lo e sabê-lo – já os deuses ou forças, que vivem nas
coisas e nas almas, discutiam se sim ou não os deviam deixar triunfar.
Júpiter, que era o Deus dos Deuses, senhor do Mundo; Vénus, filha de
Júpiter, Deusa do Amor e da Ternura; Baco, o Deus da Folia e do Vinho;
Marte, o Deus da Guerra; Apolo, o Deus da Luz e do Calor; e Neptuno, o
Deus do Mar, Juntaram-se todos para resolver se dariam ou não auxílio
aos Portugueses.
Basta que Júpiter desencadeasse um grande temporal
sobre as frágeis embarcações, para que um naufrágio as engolisse logo e,
com elas, os tripulantes e o próprio Vasco da Gama …
Era isto o que
nem Vénus nem Marte – amigos dos Portugueses, que são, como ambos esses
Deuses, afectuosos e valentes – de maneira alguma queriam.
Mas Baco
– sempre tonto e mau, que tivera outrora grande poder na Índia e
receava que os Portugueses, conquistando-a, até a lembrança do seu
reinado de lá afastassem – Baco preparava-se para os inquietar,
desanimando a lusa energia com toda a espécie de maldade e perfídias.
No palácio luminoso, perto das estrelas, em que habitualmente se
reuniam – grande conversa e discussão houve entre os Deuses a propósito
dos nossos Portugueses e da melhor decisão a tomar sobre o destino das
suas naus….
(João Barros)
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