Analisando o tal do princípio
republicano, essa muleta linguística dos nossos políticos que nos é
doutrinada logo no 1º ciclo. República não é sinónimo de democracia, de
ética ou de legitimidade popular.
A República é apenas uma
forma de organização do poder na qual os cidadãos elegem o Chefe de
Estado. Mas isso não quer dizer que nas monarquias as pessoas estejam
impedidas de eleger os seus seus governantes. O que elas não elegem são
os Reis, mas se a monarquia for democrática (e a maior parte é), os
cidadãos elegem os chefes de governo (que é quem realmente manda) e o
Parlamento.
Em Portugal estamos habituados a
pensar em democracias numa direcção: ou elegemos ou não estamos numa
democracia. Na realidade, a questão é mais complexa. Democracia é o
oposto de ditadura (ou autocracia) e não de monarquia.
Enfim,
existem repúblicas democráticas (Islândia, Finlândia e Suíça, por
exemplo) e ditatoriais (Coreia do Norte, Chade e Turquemenistão, por
exemplo). E existem monarquias democráticas (Noruega, Dinamarca e
Suécia, por exemplo) e autocráticas (Arábia Saudita, Omã e Suazilândia,
por exemplo). Ditadores e democratas não são exclusividade das
repúblicas ou monarquias.A separação de poderes referido
no título é essencial para as democracias. Não importa se elas são
repúblicas ou monarquias.Quando o conceito moderno de separação de
poderes foi desenvolvido por Montesquieu, no séc. XVIII, justamente
para as monarquias da Europa Ocidental à época (se o princípio da
separação de poderes ‘pertence’ a algum tipo de regime político,
portanto, seria às monarquias e não às repúblicas). Ele desenvolveu o
princípio de separação de poderes para diferenciar autocratas de
democratas e não repúblicas de monarquias.No gráfico abaixo está uma
lista de 167 países do mundo e seu índice de democracia, calculado pela
revista The Economist, em maio desse ano. 0 é muito baixo (nada
democrático) e 10 é alto (uma democracia quase perfeita). Os pontos do
lado esquerdo (escuros) são monarquias e os do lado direito são
repúblicas.
Hoje em dia, as monarquias (pontos
escuros) tendem a ser mais democráticas que as repúblicas (bolinhas
claras). Pelo índice, as monarquias tendem a ser 20% mais democráticas
do que as repúblicas, e se olharmos os 25 países mais democráticos da
lista, veremos que 12 deles são monarquias (e não importa onde o ‘corte’
é feito: dentre os 5 mais democráticos, 4 são monarquias; e dentre os
10 mais democráticos, 7 são monarquias).
Mas isso também não significa que as
monarquias sejam sempre mais democráticas. No gráfico abaixo, podemos
ver os mesmos valores em numa única linha. Como se pode ver, as bolinhas
escuras (monarquias) podem estar em qualquer lugar da curva: algumas
monarquias são muito democráticas, outras terão uma democracia
imperfeita (por exemplo, a Jamaica, que é uma monarquia), e outras não
serão nada democráticas.
O gráfico acima mostra que tanto repúblicas como monarquias podem ser muito democráticas (10) ou pouco democráticas (1)
Levado à letra, quando alguém diz que é um republicano ele pode estar dizer duas coisas distintas:
(1) que ele defende a escolha do chefe de estado pelos cidadãos, ou
(2) que ele prefere um sistema que tende a ser menos democrático.
Sim,
embora pareça ser uma contradição em teoria, se calcularmos a média dos
167 países acima, veremos que ela é de 5,46, enquanto a média dos países
republicanos é 5,29 e a dos países monárquicos é 6,32. E o que tudo isso quer dizer?
Na
prática, democracia não é dependente desse ou daquele sistema ou regime
de governo, mas do respeito às leis, instituições e processos
democráticos, da qualidade intelectual e moral daqueles que governam, ou
do comportamento e educação daqueles que são governados. Não existe um
sistema que garanta uma democracia.
Uma
democracia, mais do que uma causa (ou condição inicial) é uma
consequência que depende da qualidade: das pessoas ;da ligação
estrutural que existe entre eleitores e eleitos e que variará largamente
em complexidade consoante a complexidade histórico-social do País em
Causa.
Sem comentários:
Enviar um comentário