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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 17 de novembro de 2012

NA MORTE DE UM GRANDE PORTUGUÊS E DIPLOMATA, O EMBAIXADOR JOSÉ EDUARDO DE MELLO GOUVEIA (1930-2012)


A última manifestação da acção de Mello Gouveia, a Sala Thai em Lisboa

Morreu em Lisboa o Embaixador José Eduardo de Mello Gouveia, diplomata eficientíssimo, monárquico e patriota sem mácula, brilhante folha de serviços e um amigo que fiz. Mello Gouveia era oriundo de uma família com pergaminhos no serviço do Estado - o seu bisavô homónimo foi figura marcante da governação entre 1870 e 1890, ocupando funções ministeriais na Fazenda, na Justiça, na Marinha e Ultramar - e dele sempre retive expressões de grande argúcia, inteligência viva, uma graça sem par e raro conhecimento das coisas de Portugal no Oriente, onde foi Embaixador sucessivamente em Camberra, Bangkok e Tóquio. O seu último posto foi Bruxelas, mas não aceitou a reforma, logo oferecendo-se como Assessor Diplomático do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, funções que desempenhou como nenhum outro o poderia fazer. Lisboa ficou-lhe a dever muitos eventos relacionados com a divulgação e estreitamento de relações culturais com o Japão e a Tailândia, mas, sobretudo, a luta quase heróica que travou para conseguir a instalação em Belém do pavilhão em teca dourada que ali se inaugurou no passado ano, por altura das celebrações dos 500 anos de relações luso-tailandesas.


O palacete da embaixada de Portugal na Tailândia, reconstruído da quase-ruína por Mello Gouveia


Licenciado em letras, grande leitor e homem com quem cheguei a estar horas intermináveis falando da presença de Portugal na Tailândia, foi professor do ensino secundário e, em finais da década de 50, responsável pelo Boletim da Agência Geral do Ultramar, à qual emprestou o seu saber e energia transbordante, transformando aquela publicação em referência obrigatória para quantos se interessam pela presença de Portugal no mundo. Nos anos 60 ingressou na carreira diplomática, mas foi na década de 1980 que revelou o enorme potencial que guardaria até aos últimos dias. Quando em 1981 chegou à Tailândia, ali quase se haviam eclipsado os traços da presença portuguesa que fora hegemónica até meados do século XIX. Ficamos-lhe a dever a recuperação do majestoso edifício da representação portuguesa na capital do antigo Sião, o alindamento do jardim, a intensa actividade de estímulo à investigação e edição sobre a antiguidade das relações de Portugal com as potências regionais do Sudeste-Asiático moderno e contemporâneo, as escavações e criação do parque arqueológico da aldeia portuguesa na antiga capital (Ayuthaya), tarefa à qual se entregou com quase destemor, mercê do envolvimento que conseguiu da Fundação Calouste Gulbenkian. Como me disse um editor alemão fixado na Tailândia, "Mello Gouveia voltou a colocar Portugal no mapa". Foi dos raros diplomatas acreditados na Tailândia que mereceu a amizade do Rei Rama IX, que continuou a interessar-se pela sua carreira após o término da missão e lhe atribuiu a mais alta condecoração tailandesa - a de cavaleiro da Ordem do Elefante Branco - nunca antes concedida a um estrangeiro.



Não era, pois, um diplomata de papéis e intermináveis circunlóquios sem ponto de aplicação. Havia naquela inteligência um sentido prático e conversava como quem estivesse a despachar matéria diplomática, fazendo perguntas e pensando em soluções que dessem corpo ao redondo das conversas. Também não era um diplomata de trapos e poses, da fausse finesse que esconde nada. Era moderno, imaginativo e empreendedor. Coleccionador de arte asiática, detentor de uma excelente biblioteca e de arquivo de papéis que foi comprando ao longo de uma vida sem descanso - a ele ficámos a dever o empréstimo de peças da sua colecção, apresentadas ao público na exposição Das Partes do Sião - era daqueles raros homens que se abrem sem agenda à amizade. Dos inesquecíveis almoços que partilhámos, eu, o Professor Vasconcelos de Saldanha, ficou mais que a qualidade do anfitrião. Ficou, posso dizê-lo, uma quase-mágoa, pois o Embaixador gostaria de estar presente nas provas do meu doutoramento e sua edição. Assim não o quis o destino, mas Mello Gouveia ficará sempre marcado a estes longos anos da minha vida que dediquei a Portugal na Tailândia. Agora, Senhor Embaixador, trate de descansar.

1 comentário:

  1. Os meus pesamos à familia enlutada.
    Que De3us tenha em eterno descanso a alm,a desde grande senhor que foi Mello Gouveia.

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