Leonor
de Aragão e Isabel de Coimbra, mulheres, respectivamente, dos Reis D.
Duarte e D. Afonso V, foram “tristes rainhas”, afirma a historiadora Ana
Maria Rodrigues, autora das suas biografias, recentemente editadas num
volume.
“Tanto uma como outra tiveram períodos felizes nas suas
vidas, mas atravessaram momentos dramáticos e de grande infelicidade.
Leonor nunca chegou a recuperar plenamente deles. Isabel, quando tudo
parecia estar a recompor-se, faleceu de súbito. Tristes rainhas!”,
atesta a historiadora.
Em declarações à Lusa, Ana Maria Rodrigues
falou da lacuna documental em relação às soberanas, já que as
chancelarias das rainhas “não foram dignas de sobreviver na sua quase
totalidade”, não sendo alheio a esta falta “o terramoto de 1755, que
destruiu muita coisa”.
Todavia, apesar desta ausência, pode-se
traçar a acção pública das duas rainhas, “pois, da esfera privada, nada
se sabe nesta época, pelo menos em Portugal, apesar de noutros reinos,
na mesma altura, surgirem já algumas referências”.
“Às rainhas era
esperado quem fossem piedosas, recatadas, protectoras da igreja,
patrocinassem as artes, e muitos estilos novos entraram em Portugal
através das rainhas estrangeiras que os traziam das suas terras”,
afirmou.
“As rainhas tinham poderes informais, mas não uma posição
destacada na política formal, que só tiveram se exercessem a regência,
mas, de facto, algumas levavam esse desempenho mais longe pelas relações
internacionais que tinham, porque eram mais dinâmicas, e tinham sido
desde cedo educadas para se tornarem rainhas”.
D.ª Isabel de
Coimbra, filha do infante D. Pedro, neta do Rei D. João I, fez os votos
matrimoniais aos sete anos, "mas só a partir dos 12 podia consumar o
matrimónio”, contou.
Por outro lado, acrescentou a autora, “as
rainhas-consortes tinham também um papel conciliador na família real e
com o estrangeiro”.
D.ª Leonor, já viúva e regente na menoridade do
filho, futuro Afonso V, assinou como “triste Rainha”, um hábito das
casas reais castelhana e aragonesa.
“A única manifestação pessoal
sua que encontrei na documentação, foi a carta que dirigiu a um 'amigo
bispo' de Aragão, em que lhe dá conta da sua preocupação de o rei [D.
Duarte] poder vir a participar na expedição militar a Tanger [em 1437].
Curiosamente, o cronista Rui de Pina afirma que a rainha pressionou para
o rei fazer esta expedição”, disse.
Referindo-se a Leonor, a
biógrafa afirmou que “foi sempre mais interventiva, quer em Portugal,
quer no exílio, quando ainda interveio na política castelhana”.
Leonor de Aragão entregou a regência a D. Pedro, pai de Isabel de
Coimbra, por imposição das Cortes de Lisboa de 1439, retirando-se para
Toledo, onde nascera e onde viria a morrer, em 1449.
"Estas duas
rainhas foram de facto notáveis, apesar de muito diferentes uma da
outra. D.ª Leonor conseguiu manter o poder durante algum tempo e D.ª
Isabel foi, através da habilidade de conciliação, pela sua maior
paciência, que conseguiu manter-se fiel ao pai e ao marido, o rei D.
Afonso V, que se guerrearam”.
A obra, publicada pelo Círculo de
Leitores na colecção “Rainhas de Portugal”, inclui vários anexos,
nomeadamente as listas dos criados, oficiais e servidores das duas
rainhas, a dos "privilégios de isenção de dar pousadia ao Rei, à rainha e
aos infantes", assim como a lista dos merceeiros das rainhas, além de
uma cronologia e de duas genealogias.
No caso de D.ª Isabel, são
ainda listados os “nomeados, perdoados e privilegiados por D. Afonso V, a
pedido da rainha”, e, no de D.ª Leonor, é dada à estampa uma lista da
“expropriação dos bens e/ou destituição dos cargos de partidários” seus,
assim como do “perdão e/ou recompensa” aos partidários da rainha que
veio de Aragão.
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