José Aníbal Marinho Gomes (*) responde publicamente, através do blogue ESTADO SENTIDO, ao artigo "Viva a República", de Rui Pereira, ex-ministro da Administração Interna e actual professor universitário, publicado no Correio da Manhã.
"Já não tenho paciência para comentar afirmações de republicanos primários! Conheço muitos republicanos convictos e respeito o seu republicanismo. Aliás como monárquico sou um defensor acérrimo da República “respública” e nunca ouvi da parte destes meus conhecidos qualquer argumento simplista na defesa do ideal republicano.
Este mação de m….. nem
merecia resposta. Mas para professor de direito, embora não passando de
mais um professor, para não dizer professorzeco, são lamentáveis as
descargas que jorram da sua boca, relativamente a este tema.
A
certa altura refere que “A ideia simples de que o Chefe do Estado deve
ser eleito pelos cidadãos – de preferência através de sufrágio directo –
é de uma grande actualidade e articula-se harmoniosamente com o
princípio democrático.” Estaria de acordo se não fosse a Inglaterra a
mais velha democracia do mundo, diga-se democracia a sério, e não
detecto que neste país a chefia de estado não esteja articulada com o
princípio democrático, à semelhança do que acontece na Noruega,
Dinamarca, Suécia (país onde num dos últimos aniversário do monarca o
primeiro ministro confessava que o Rei era o melhor defensor da
república), democracias muito mais avançadas do que a que existe no
nosso país.
Continua a sua argumentação: “Por simpático
que seja algum monarca ou candidato a monarca, nenhum argumento racional
justifica a distinção entre cidadãos em função da sua ascendência. Só o
mérito pessoal, reconhecido em eleições, deve ditar quem nos chefia.”
Estou
de acordo com o que escreve, efectivamente ninguém deve ser distinguido
em função da sua ascendência, diga-se ascendência maçónica,
político-partidária, económica, etc., infelizmente Dr. Rui Pereira não é
isso que se verifica, pois se atendêssemos ao mérito pessoal muitos
políticos nunca deveriam ter sido eleitos, assim como V.ª Ex.ª nunca
deveria ter sido ministro, antes pelo contrário deveria dedicar-se mais a
estudar as muitas e necessárias correcções ao código penal do qual foi
um dos mentores, que entre outras coisas permite os corruptos fugirem
das acusações de que são alvo, e coloca os criminosos à solta. Já agora
só o mérito pessoal reconhecido em eleições é que vale? É que a ser
assim estamos conversados…
A diferença Dr. Rui Pereira, é
que para Presidente da República pode ser eleito qualquer ignorante
desde que preencha os requisitos estatuídos na Constituição. Que uma vez
eleito vai favorecer todos aqueles (diga-se partidos políticos, grupos
económicos) que contribuíram para a sua eleição. Enquanto um Rei,
precisamente por não ser eleito, não está sujeito aos caprichos de quem
contribui para a sua eleição. Pela sua preparação desde muito novo para
desempenhar o cargo de Chefe de Estado, não privilegia determinados
grupos em detrimento de outros, é isento e é o fiel depositário das
liberdades de garantias do Povo, uma vez que põe os interesses do bem
comum acima de todos os outros, inclusive pessoais.
Apesar
de todos os recados que o actual PR manifesta publicamente contra
algumas medidas do actual Governo, será que quando chegar a altura, isto
é quando o governo deixar de ter legitimidade popular (que não se mede
só por eleições) terá a coragem de demitir um governo da sua cor
política? Que contribuiu para a sua eleição? Aqui é que reside a
diferença entre as duas chefias de Estado.
Aliás, quando
o Dr. Jorge Sampaio dissolveu o Parlamento e convocou eleições
antecipadas, não o fez numa altura em que um partido da sua área estava
no governo. Antes pelo contrário, isto para além de ter esperado a
altura ideal (logo não inocente para o fazer). Deixou que o seu partido
tivesse escolhido um novo líder.
Um Rei reina, não
governa! Quem governa são os representantes do Povo escolhidos através
de eleições democráticas. Aliás não vislumbro uma monarquia sem ser
democrática.
Mas o Dr. Rui Pereira continua o seu
discurso propagandístico: “Não raramente, os monárquicos alegam que a
República é ilegítima por duas razões aparentadas: não foi sufragada
pelo Povo e não pode ser abolida democraticamente, dado que se inclui
nos limites da revisão constitucional. Nenhum dos argumentos procede. Em
primeiro lugar, os constituintes que optaram pela República, em 1976,
foram eleitos pelo Povo. Em segundo lugar, uma maioria de dois terços
dos deputados possibilitaria a escolha da monarquia através de uma dupla
revisão – alterando primeiro os limites e, na revisão seguinte, a forma
de governo.”
Caro Dr. Rui Pereira para um Mestre em
direito, republicano, defensor da democracia directa, etc, etc., o que
não colhe são os seus argumentos.
Em primeiro lugar,
para além de ser um facto que a republica nunca foi sufragada, o
legislador constituinte quis concretamente blindar o regime republicano
ao estatuir o limite material de revisão que impede assim o Povo de
democrática e directamente exercer o seu direito de se exprimir sobre
qual o regime que pretende. Além disso Dr. Rui Pereira, os constituintes
de 1976 não optaram pela república, pois ela já existia de 1910. Ou
será que V.ª Ex.ª não considera o regime de Salazar uma república? Para
mim não tenho qualquer espécie de dúvida, o regime anterior monarquia é
que não foi. Então existiram ou não eleições para eleger Carmona e
Américo Tomás como Presidentes da República? Sim, quer goste ou não esta
foi a 2.ª república e agora estamos na 3.ª que está de pernas para o
ar!
Talvez devido à sua filiação numa organização
secreta (embora à luz da nossa constituição sejam proibidas associações
secretas), se reveja V.ª Ex.ª nos ideais carbonários da 1.ª república,
considerando apenas esta e a actual como repúblicas….
Quanto
ao referido duplo processo de revisão que refere a doutrina não é
unânime sobre o assunto, por exemplo para a escola de Coimbra (donde são
originários os “pais” da Constituição de 1976) não há a figura da dupla
revisão, uma vez que os limites materiais não são passíveis de revisão
constitucional.
Depois Dr. Rui Pereira, eu como
monárquico não quero uma restauração da Monarquia feita no Parlamento,
mas sim após uma consulta popular através de um referendo.
A terminar um pequeno reparo, a Monarquia não é uma forma de governo mas sim de regime!"
José Aníbal Marinho Gomes
publicado por Pedro Quartin Graça em Estado Sentido
Basta ter sido politico para estar tudo dito.
ResponderEliminar(Pedro Antunes)