Anda
a carteira triste porque lhe vão roubar o dia 5 de Outubro. Claro que
sendo do contra, com isto querendo dizer contra a minha pessoa, lamenta
não poder ir assistir àqueles empolgantes discursos republicanos, ao
hastear da bandeira verde e rubra nos Paços do Concelho em banho de
multidão exaltada. Recomendar-lhe-ia óculos e um aparelho auditivo, mas
respeito o entusiasmo e não comento, em omissão piedosa. Estranhamente
ou não parece que a última celebração será numa espécie de
clandestinidade.
Tive
de lhe lembrar que no dia 5 se celebra acontecimento bem mais
importante. Uma das datas ligadas à fundação da nacionalidade: o Tratado
de Zamora em 1143.
Portugal
não faz umas quaisquer dezenas de anos mas oitocentos e sessenta e
nove, 869, para ver se percebem bem a grandeza dos números.
Tudo
se deve essencialmente à teimosia de um só, alguém que sonhava um
Portugal independente.
Era alguém especial, D. Afonso Henriques, que
após a batalha de Ourique em 1139, e aclamado pelos seus cavaleiros,
passou a intitular-se rei de um Portugal que teimava em ver livre da
vassalagem a D. Afonso VII de Leão e Castela.
Com
avanços e recuos mas com firmeza e usando de uma estratégia política
bem delineada, acabou alcançando os seus intentos. Passaram-se anos até
ao Tratado de Zamora, muitos outros até ao reconhecimento pontifício
(1179), mas a teimosia deu frutos.
É
graças a si que aqui estamos ainda hoje como Nação independente. Será?
Não sei se o nosso primeiro Rei gostaria muito de ver no que Portugal se
transformou. Talvez pudesse pensar se tanto esforço afinal teria valido
a pena …
Pelas leis matemáticas e das probabilidades, dizem-nos que todos somos de alguma forma aparentados com D. Afonso Henriques.
É indiferente.
Era mais importante que soubéssemos ser herdeiros da sua firmeza e da sua férrea vontade de defender a soberania.
Leonor Martins de Carvalho
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