Todos sabem o que penso de Passos Coelho. E não poderia ser diferente,
afinal, os factos falam por si e eu me curvo diante deles. Antes desta
besta ser eleita, tive o cuidado de estudar o currículo do cavalheiro de
modo a saber quem financiou a sua carreira, confirmando assim o que
todo mundo sabe, ao menos quando quer saber: ele é apenas um boy a soldo
das corporações. Muitos dos que agora se voltam contra ele, durante as
eleições acreditaram na retórica liberalóide do rapaz, dando mostras de
uma ingenuidade política que beira o ridículo, mas pior ainda são os que
ainda se encantam pela retórica dessa besta, esquecendo que o discurso
de qualquer sujeito na política só vale como uma medida de aferição da
honestidade, das intenções e da capacidade do mesmo quando confrontado
com as suas acções.
Quando fazemos esse exercício tão simples, constatamos que o passinhas
não passa de um mentiroso vulgar, tal e qual todos aqueles que o
precederam. Prometeu aos idiotas que nele acreditaram (, não fui um
deles, mas eu admito que fui um dos idiotas que votaram no PP) que desta
vez seria diferente, ou seja, que o desperdício de recursos estatais
seria finalmente combatido, que se criariam condições para o corte nos
impostos e que o governo deixaria de intervir tanto na vida das pessoas.
Fez tudo ao contrário, com o cuidado de fazer alguns cortes cosméticos
que não representam nada e nem sequer impediram os gastos totais de
crescer, de modo a fazer publicidade de alguns números que em si,
especialmente numa nação que desaprendeu a matemática, parecem
significativos, mas que na soma do orçamento são apenas
insignificâncias. A austeridade passista, vista por alguém que deixou de
lado as discussões absurdas em torno do tema e fixou o olhar no que
interessa, significa a manutenção da despesa com a máquina no mesmo
patamar (ou melhor, significa a diminuição da velocidade em que
aumenta), a continuação do saque do país pelas corporações que vivem do
erário, a venda de empresas públicas num momento de desespero, o aumento
de impostos numa economia asfixiada pela carga fiscal, a diminuição da
competitividade e a intensificação da perseguição aos indivíduos que
desejam a independência económica com o reforço das actividades de
policiamento do estado.
Portanto, a única coisa que mudou em relação ao governo anterior foi o
tom de voz do pau mandado mor da nação. Se antes tínhamos uma fera cheia
de alcalóides na cabeça, agora temos um pau mandado que faz de conta
que é uma pessoa comedida. E alguém ainda dúvida que os verdadeiros
senhores do regime, ou seja, os grupos que financiam os partidos, não
escolheram esse sujeito por isso mesmo? Manter a besta anterior levaria o
país à ruptura, assim, para que o regime continuasse, era preciso dar
ao povo algo que se parecesse com uma alternativa: um homem
aparentemente equilibrado, voltado para a reflexão, que faz cara séria e
finge que sabe escutar.
Entretanto, a ilusão durou pouco. A falsidade do repetidor de discursos preparados por especialistas em marketing
não pôde ser disfarçada durante muito tempo pois é impossível esconder
que este governo continuou a mesma política orçamental do anterior, para
além de estar tão comprometido com a destruição da soberania portuguesa
quanto quase todos os governos dessa fase negra da história portuguesa.
O descaramento é tanto que o ministro da defesa defendeu isso
publicamente e nem sequer foi demitido!
Muitos dos que defendem o imbecil que faz de conta que nos governa,
porque a verdade é que somos governados pelos senhores que sabem toda a
verdade acerca de Passos Coelho, até porque foram eles que o criaram,
agora se voltam contra os manifestantes de ontem, mas esquecem que foram
as acções e inacções de Passos que criaram as condições para que tal
acontecesse.
Bastaria a Passos Coelho ter cumprido a sua palavra e seguido um
verdadeiro programa de austeridade, que realmente cortasse a despesa,
mas tomando o cuidado de dar o exemplo para que a população ficasse ao
seu lado, o que significa cortar mais nos salários dos chamados
políticos do que nos salários dos funcionários públicos, para que a
manifestação de ontem estivesse vazia ou nem tivesse ocorrido.
Mas ele não poderia fazer isso pois quem o escolheu não espera outra
coisa dele a não ser o que ele tem feito. Se o passinhas, por algum
milagre, decidisse fazer o que prometeu aos eleitores ao invés de fazer o
que foi ordenado pelos seus financiadores, no dia a seguir teríamos
todas as capas de jornais estampadas com as verdades que até agora tem
sido omitidas do grande público.
De resto, que fique claro que quem defende esse governo é um inimigo de
Portugal ou completamente ingénuo, e muita gente que respeito tem
demonstrado isso nessa ocasião, para meu desgosto. A única razão que
vejo para se apoiar o actual governo é a constatação de que Passos
Coelho, por total incapacidade política, é o coveiro da 3ª República.
Mesmo sendo um pau mandado, ele possui alguma flexibilidade de acção, e
dentro desse espaço ele errou em todas as escolhas e intervenções que
fez. Assim, ao contrário do que era previsto pelos senhores do regime, a
população se cansou do passinhas em pouco tempo e a sua manutenção no
governo começa a constituir uma ameaça ao regime. Portanto, agora
veremos a promoção da figura ridícula que está à frente do PS ao posto
de alternativa, mas desconfio que o povo, devido à rapidez das últimas
desilusões, já não cairá nesse velho engodo. O perigo é que o PCP tome
partido disso e os monárquicos continuem a se esforçar por serem amados
pelos que estão no poder ao invés de falar directamente ao povo e
assumir a liderança na oposição ao regime.
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