♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 19 de maio de 2012

O BAPTISMO DE SANGUE DE SÃO NUNO ALVARES PEREIRA

Nuno Álvares exulta de alegria. A sua alma enche-se de sol. Vai, enfim, pelejar!
"Amigos — grita aos companheiros, com voz estrondosa e augusta — por nossa honra! A eles, a eles! Deus é connosco". Mas os outros replicam-lhe, prudentes: "Mestre, os castelhanos são dez vezes mais do que nós". "Não importa! — bradou de novo Nuno Álvares, com voz vinda do fundo do coração, vinda de outros mundos — A eles, a eles! Segui-me. Fazei o que eu fizer. Serei o primeiro. Sejamos um!"

Ia avançar. Mas vendo que os companheiros não se moviam, Nuno Álvares afastou-se, ajoelhou em terra e, todo dentro de si, orou de mãos postas a São Jorge. A sua alma mística viveu esse rápido momento em luz celeste, iluminando-se de puras claridades, temperando-se de energias sobre-humanas, despertadas no fundo do seu ser pela inspiração sublimada. Depois montou de um pulo, firmou-se na sela de alto arção, sofregou as rédeas, esporeou rijamente o corcel nervoso, couraçado de testeira e peitoral de ferro, e pôs no inimigo o olhar resoluto.

Num paroxismo de intrepidez, como se fora a própria chama do espírito armado e alado quem galopasse, atirou-se numa arrancada doida, num clarão, numa transfiguração — o corpo em fogo, a alma em luz, nos olhos um rir de divina alegria, na boca uma flor de divina reza — atirou-se para esse extenso e espesso sendeiro de duzentas lanças em riste, contra o qual a sua virginal armadura de aço e de fé se chocou ardidamente.

A espada de Nuno Álvares, vibrada de trás das costas, fende para a direita, fende para a esquerda, fende de través, ataca de chuço, espedaçando capelos, talhando broquéis, esmigalhando lorigas, sempre brandida por esse braço de ferro que uma alma religiosa vitaliza, incendiando-o de coragem, de virtude, a romper caminho, a abrir clareiras de sangue em volta de si, a limpar de inimigos a terra santa da pátria adorada.

Seu cavalo empinado, com olhos em chama e narinas em brasa, lampejando na testeira, atira-se aos galões, esmagando corpos caídos por terra, ferindo lume com as ferraduras bravas, nos arneses, nos escudos, nos ferros das lanças partidas que cobrem o chão. A espada miraculosa de Nuno Álvares continua ingente, descarregando golpadas de fogo.
Sobre ele, sobre a sua intemerata armadura, ressoam os golpes dos montantes, os encontros das lanças, as pancadas das pedras e os arremessos dos virotões. O cavalo, lanceado no peito, no pescoço, nas ancas, a espadanar sangue, cai para morrer. No espernear da agonia, engancha um ferro numa solha da armadura de Nuno Álvares, que, tendo caído com ele, fica preso no corcel. Por terra, Nuno Álvares brande sempre a espada furiosa e religiosa.

O desastre é fatal; a morte, iminente. Mas já ao longe surge uma chusma de companheiros, acorrendo. Chegam e desprendem-no. Nuno Álvares levanta-se de um pulo. Toma nas mãos, cheias de sangue, uma das muitas lanças abandonadas que jazem em volta dele. E à frente dos seus, alucinado, corre à lançada os castelhanos, derrubando-os, esmagando-os, matando-os. O inimigo foge. O campo fica varrido. Vencera!
E este foi o seu baptismo de sangue. Sangue que depois, na ardência das batalhas, efervesceu e explodiu em bravuras sublimes!

(Fonte: Antero de Figueiredo, "Leonor Teles")


http://apeiron-edicoes.blogspot.pt/

Sem comentários:

Enviar um comentário