"Com
os vínculos de que é prisioneiro, modela El-Rei a liberdade de todos. O
seu poder é essencialmente libertador. Nele, a natureza humana está
cativa, para que nos outros homens esteja livre. Libertador da natureza,
é às liberdades naturais que El-Rei se sacrifica; não à entidade
metafísica que um Humanismo unilateral imaginou. Deus suscitou El-Rei
para servir os homens; não para servir ideias.
Quatro
aspectos se podem considerar no serviço político (ou poder político) que
El-Rei desempenha, quando encarado sob o ângulo da liberdade:
a)
Defende cada indivíduo ou cada colectividade das abusivas intromissões
alheias; está nisto o que legitimamente se pode chamar o poder moderador
de El-Rei: o Rei exerce o «poder moderador» na medida em que limita ao
seu âmbito próprio os poderes natura...is dos indivíduos e da sociedade,
integrando-os na unidade política da Nação. Aspecto negativo, nem por
isso deixa de ser fecundo.
b) Por acções negativas e
positivas, é próprio do poder real garantir a cada indivíduo ou
comunidade uma existência conforme com a sua própria essência. Aqui se
manifesta em supremo grau a vocação de El-Rei para libertador da
natureza.
c) Pela sua segunda natureza, que é o cuidado
político, El-Rei dispensa do zelo geral os homens e as sociedades. Todos
devem dar para o Bem Comum a sua quota-parte. Todos devem ter o Bem
Comum como a suprema regra natural. Bem certamente! Mas o Rei lá está,
em nome de todos; substituindo, aos cuidados políticos dos outros (que,
por mais constantes, serão sempre acidentais), o seu cuidado político
substancial, que é o seu modo de ser enquanto Rei. É como participantes
do poder real que os participantes hão-de participar do cuidado
político, do zelo geral.
A El-Rei compete escolher os
súbditos, não aos súbditos escolher El-Rei. Mas essa escolha é a dos que
em união com ele devem ser, na esfera política, os promotores do Bem
Comum. Nos seus planos próprios, indivíduos, famílias, corporações,
municípios, rasgam entretanto os seus caminhos, escolhem
democraticamente os que entre si conhecem como melhores, vivem a sua
vida... Porque El-Rei se consagrou ao Bem Comum, todos podem
consagrar-se aos bens particulares. E de tudo resulta a harmonia da
Nação.
d) Livra a Nação do caos sempre possível dos
poderes desencontrados, fortalece-a, defende-a, enobrece-a. E, assim,
não apenas torna possível, mas realiza, a aspiração essencial de
qualquer nacionalidade: a independência. É esta, mais que todas, a
função real: dar à Nação a existência que a sua essência pede: a
existência política. A Nação é o Reino."
in "A liberdade e El-Rei", Henrique Barrilaro Ruas
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