Por detrás duma aparentemente equilibrada apreciação à polémica da eliminação dos feriados, o editorial de hoje do jornal i da autoria da Ana Sá Lopes esconde algumas contradições que eu gostaria de aqui salientar.
A cronista defende um esvaziamento simbólico das duas efemérides, nomeadamente que a República, “é um dado adquirido e irreversível”, cujas comemorações “já não comovem ninguém”, e na mesma lógica, uma suposta minoria de monárquicos não justifica a continuidade do dia da Restauração da Independência. Estes dois argumentos confluem num surpreendente equívoco: então porquê o ribombante remate ao texto, com a afirmação de que, a confirmar-se a eliminação dos dois feriados civis, “a derrota da UGT foi mesmo em toda a linha”? Precisamente porque estamos no âmbito do simbólico é que esta conclusão me parece contraditória.
Mas no final de contas eu até entendo a avaliação da
Ana: dispersados em diferentes partidos, prioridades e causas, tantas
vezes concorrentes entre si, os monárquicos de facto raramente dão notícia, são gente pacata o que é uma clara desvantagem
competitiva face aos poucos republicanos: não parecem ser capazes que
matar ninguém, muito menos o chefe do Estado. Apesar disso parece-me um
erro subestimar o seu número e o seu potencial. E depois está errado
concluir que apenas existe “o que é notícia”, para mais se considerarmos
os alvoroços pueris com que se preenchem as manchetes da espuma dos
dias nos media de consumo.
De resto a vida dá muitas voltas, e em
1907 a força e representatividade dos republicanos era pouco mais do que
barulhenta, assim a modos como Bloco de Esquerda nos dias de hoje.
Nessa altura nenhum analista ou cidadão informado se atreveria a prever o
caminho vertiginoso que a História acabou tomando.
Finalmente uma palavra sobre a suposta “escandalosa submissão do governo à Igreja Católica”: até os comunistas do PREC aprenderam com a História (da 1ª República) que afrontá-la só serve para a fortalecer.
Finalmente uma palavra sobre a suposta “escandalosa submissão do governo à Igreja Católica”: até os comunistas do PREC aprenderam com a História (da 1ª República) que afrontá-la só serve para a fortalecer.
publicado por João Távora em Real Associação de Lisboa
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