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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

domingo, 22 de janeiro de 2012

NÓS NÃO ESQUECEREMOS

Morreu Eurico Corvacho, antigo comandante da Região Militar Norte. Soube do pesar manifestado pelo presidente da Associação 25 de Abril, e li as notas biográficas divulgadas pela agência Lusa, em que se referia que foi um dos principais militares de Abril no  Norte do país, que foi "um dos principais alvos dos movimentos revolucionários que, a partir de Espanha, planeavam um contragolpe para derrubar o que prenunciavam como uma ditadura comunista", que era próximo de Vasco Gonçalves e com ele foi afastado depois da Assembleia-Geral do MFA realizada em Tancos, em Setembro de 1975.

Gostaria de completar a sua biografia com alguns factos relevantes. Recorro, para isso, ao "Relatório das Sevícias" elaborado pela comissão nomeada pelo Conselho da Revolução em Janeiro de 1976. De facto, e tal como se pode ler na deliberação do CR, "foram as Forças Armadas que tomaram a decisão de mandar averiguar a conduta de alguns dos seus membros, face aos clamores da opinião pública que não podiam ignorar".

Diz o relatório que em Março de 1975 foram presos, na cidade do Porto, militares e civis que, "na opinião do Comando da Região Militar do Norte, pertenceriam ou colaborariam com o Exército de Libertação Português, e que teriam ligações com os implicados nos acontecimentos do 11 de Março". Ouvidos os queixosos e os intervenientes nas prisões, a comissão apurou que as detenções foram efectuadas por militares, predominantemente em traje civil e não militar, sem que tivessem sido exibidos os mandados de captura ou a sua identificação; que os presos estiveram sujeitos a longos e injustificáveis períodos de prisão preventiva em regime de incomunicabilidade extensivo a contacto com advogado; que o regime prisional, a que estiveram sujeitos na cadeia de Custóias, e determinado por Corvacho, apesar de se tratar de um estabelecimento civil, era "completamente anormal, com ausência de recreio durante longos períodos, com vigilância exercida por um preso do foro comum, com a proibição de assistência médica, tudo se tendo conjugado para provocar perturbações físicas e psíquicas nos detidos"; que havia indícios de que, nos interrogatórios, nunca passados a escrito, foram utilizados "métodos de intimidação, provocação, ameaças e insultos". A comissão não pode comprovar, porque os militares o negaram, as acusações de que foram praticadas violências físicas durante os interrogatórios, e os simulacros de fuzilamento relatados pelos detidos.

O meu Pai foi uma das vítimas de Corvacho, e da sua inventona. Foi preso no dia 12 de Março, na sede da sua empresa, onde permaneceu, apesar de ter sido avisado que iria ser detido, porque não tinha razões para fugir. Viu os seus bens congelados, a empresa ocupada, a casa de família atacada por bandos armados. Sofreu as tais sevícias que os corajosos carcereiros sempre negaram, que lhe deixaram marcas físicas e psicológicas para o resto da vida. A família foi alvo de tentativas de extorsão por parte de militares, que prometiam a sua libertação a troco de dinheiro. Em Junho de 1975, centenas de trabalhadores da sua empresa, a Molaflex, manifestaram-se junto ao Quartel-General, exigindo a sua libertação. A manifestação foi reprimida, e o meu Pai foi transferido, em segredo, para Caxias, sem que a família tenha sabido, durante semanas, do seu paradeiro. Nunca foi acusado de nada, certamente porque nunca nada fez, e foi libertado em Novembro desse ano por Pires Veloso, esse sim um militar exemplar.

Entretanto, Corvacho fora substituído porque o Conselho da Revolução sabia que a população do Porto já não tolerava os seus desmandos, que tinham estado na origem de uma manifestação do PS. Passou à reserva em Novembro de 1975, e logo se converteu às virtudes do capitalismo. Iniciou um rentável negócio  transitário com Angola, em que foi sócio de Rosa Coutinho, que tinha bons conhecimentos nesse país. 

Nunca  foi detido, ou sequer acusado pelos factos que ficaram provados. Não sei se algum dia se arrependeu. Ainda assim, que Deus lhe perdoe. Nós não esqueceremos.

RUI MOREIRA

Fonte: Jornal de Notícias

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