por João Gomes de Almeida
Nunca como hoje fez tanta falta o PPM do antigamente nesta AD. Sei
que esta frase pode criar agitação nas hostes de todos aqueles que como
eu defendem e sempre defenderam este governo - que na minha modesta
opinião tem feito o que consegue e muitas vezes o que não consegue, para
endireitar o nosso país e cumprir à risca o acordo estabelecido com os
nosso credores.
Digo isto depois de mastigar, ao logo do
fim-de-semana, as declarações do Professor Cavaco Silva. Resumindo: as
palermices ditas pelo próprio e largamente citadas em todo o lado,
explicam em grande parte o porquê de eu ser monárquico.
Nunca um chefe de estado, no estado a
que chegou o nosso país e perante a calamidade social que muitos
portugueses enfrentam, pode proferir tais declarações. É inaceitável que
o originalmente modesto Cavaco de Boliqueime, na posição que ocupa,
possa usar do seu exemplo - bem remunerado ao longo da vida e com
imensos privilégios legítimos dos cargos que ocupou - para dizer que
está a sentir a crise e que não sabe como irá arcar com as suas
despesas.
Um rei nunca diria isto, porque o
vínculo que o une ao seu povo é muito maior e na maioria das vezes mais
ténue, obrigando-o a ser verdadeiramente um porta-voz dos eleitores que
nunca o elegeram, mas que têm sempre o ónus do poderem mandar dar uma
volta quando lhes apetecer.
Voltando ao primeiro parágrafo. A esta
AD fazem visivelmente falta homens de boa vontade, que ponham em causa o
regime republicano, que cem anos depois de instaurado nada fez pela
melhoria da nossa qualidade de vida e que nada augura de bom para os
próximos cem anos do nosso Portugal. O momento deve ser de
profunda reflexão em torno do nosso país e do seu futuro, "pelo que não
devem existir assuntos tabu" (cito Manuel Alegre nas comemorações do
centenário da república).
Nos momentos que correm, houvesse um PPM
no governo - como o de Ribeiro Telles, Augusto Ferreira do Amaral,
Barrilaro Ruas, João Camossa, Rolão Preto e Luís Coimbra - e a próxima
revisão constitucional certamente atribuíria ao povo português a
possibilidade de pela primeira vez referendar o seu regime. Parar,
pensar, votar e decidir, sobre o futuro da sua nação - em decréscimo,
desde há mais de um século.
Perante o estado de sítio a que
chegámos e perante o descrédito das instituições, sei que o povo
português irá reagir. Só espero que a classe política portuguesa tenha a
coragem de discutir abertamente o regime. As mudanças mais simbólicas, na maioria das vezes, são aquelas que mais fazem por uma nação.
Sem comentários:
Enviar um comentário