Abiúl
recebeu o seu primeiro foral em 1167 por Didacus Peaiz e sua mulher D.
Examena. Em 1175 foi doada ao Mosteiro do Lorvão que vendeu parte da
vila a André de Sousa Coutinho, passando mais tarde para os Duques de
Aveiro que a fizeram prosperar. Com a sua implicação na tentativa de
assassinato do Rei D. José, Abiúl é confiscada e vendida em hasta
pública iniciando um período de decadência hoje ultrapassado.
Nos
anos de 1561 e 1562, desenvolveu-se na vila uma grande peste, a qual
causou a morte a centenas de habitantes, tendo sido nesta altura que os
seus moradores fizeram um voto, o qual consistia numa grande festa à sua
padroeira Nossa Senhora das Neves, e na qual se registava uma cerimónia
que atraía muitos forasteiros no primeiro domingo de Agosto, festa
conhecida por Festas do Bodo. No largo onde existia a praça de touros
existe um grande forno, o qual se acendia na sexta feira antecedente ao
dia da festa, estando o mesmo a arder até ao domingo, dia da festa, e em
que se gastavam 12 a 13 carros de bois de lenha, no domingo era então
metido no seu interior um bolo (fogaça) no qual se gastavam 10 a 12
alqueires de trigo. Realizava-se uma procissão desde a Igreja até ao
forno, em que o Juiz designado para dar a volta ao Bolo, fazia a mesma
de costas durante todo o trajecto, junto do andor da padroeira. Antes de
entrar no forno, o Juiz com chapéu armado retirava da mão da padroeira
um cravo. Entrava no forno com o cravo preso nos dentes e dava três
voltas no seu interior, contanto que estivesse preparado com os
sacramentos da confissão e comunhão e saía do mesmo, sem ter sofrido
quaisquer queimaduras. Tudo isto se passava sob o olhar da imagem da
Virgem, colocada em frente ao forno. Esta tradição foi mantida até ao
ano de 1913.
É
na era seiscentista que aparece a praça de touros, considerada hoje a
mais antiga do País. Era dotada de um redondel murado com pedra firme,
estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos
de pinheiro. Aquando da realização da tourada, as ruas circundantes eram
vedadas por carros de bois e toros de pinho.
As
lides foram realizadas nesta praça até ao ano de 1898, ano em foi
substituída por uma outra praça, construída com os fundos de uma
cotização dos seus habitantes. A nova praça era moderna e adaptada às
exigências da lide tauromáquica e foi construída noutro local da vila,
encontra-se no mesmo local, actualmente.
Em
1766 registou-se um episódio curioso, com o bispo de Coimbra, D. Frei
Miguel da Anunciação, tendo o mesmo excomungado as touradas de Abiúl que
se realizavam no dia de celebração das festas em honra do seu orago,
Nossa Senhora das Neves. Esta situação provocou um grande diferendo com a
população desta vila, o qual apenas foi debelado por um despacho de
el-Rei D. José I, no dia 27 de Agosto de 1769, pronunciou el-Rei que:
“…para não faltar ao costume e devido culto, que nesta posse se
conservam desde tempos que excede a memória dos homens, presidindo a
Câmara a todos os actos desta festividade, porém que neste presente ano
sucederá que julgando Vós não ser decente outro festejo que não fosse o
da Igreja, pretendestes estabelecer que não houvesse touros, nem os
costumados divertimentos que vêm em consequência deles… sou servido
declarar-vos, que tão dissonante é impedirdes a festa que costuma fazer
naquela igreja a Câmara e o povo de Abiul, com excesso e abuso da vossa
jurisdição e ministério é proibir directa ou indirectamente os touros e
que a uma ou outra coisa vos deveis abster…”, com esta decisão os touros
continuaram a ser lidados nos dias de festa em honra da sua padroeira.
No
ano de 1758, na noite de 3 para 4 de Setembro, D. José I é vítima de um
atentado. Entre os implicados no crime encontrava-se D. José de
Mascarenhas, duque de Aveiro e mordomo-mor da casa real, senhor da vila
de Abiúl. Foi condenado à morte, no dia 12 de Janeiro de 1759tendo todos
os bens da Casa de Aveiro sido confiscados pelo Reino, entre os quais
se encontrava a vila de Abiúl. A vila é então vendida em hasta pública.
No ano de 1801 a vila tem 1 771 habitantes.
A
partir daí, a vila decaí de importância, e com as Invasões Francesas no
ano de 1811, que saquearam e incendiaram a mesma e a peste que então
ocorreu, sofreu uma machadada final.
Em
1821 com a reestruturação territorial realizada no Reino, é então
extinto o julgado e o concelho de Abiúl e no ano de 1870 a Misericórdia é
anexada à de Pombal.
Fonte: O Mundo Português
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