No dia 29 de Agosto passado publiquei um
artigo que questionava o actual regime legal de alteração de sexo. A 4
de Setembro seguinte, o mesmo jornal publicou uma contundente resposta
àquela pacífica crónica.
Por essa altura, o director de um semanário, que escrevera um
inofensivo texto de opinião sobre os «casamentos» entre pessoas do
mesmo sexo, sofreu, por esse motivo, uma impiedosa campanha de ataques
pessoais. Estes casos obrigam a questionar: está em causa a liberdade de
pensamento e de expressão em Portugal?
A «igualdade de género» e os
casamentos ditos homossexuais são teses aguerridamente defendidas por
poderosas organizações nacionais, com a cobertura de instituições
internacionais. Estes lóbis têm uma grande influência política e, em
geral, gozam de um complacente acolhimento por parte dos meios de
comunicação social.
Os defensores destas teses, tidas por
avançadas e mesmo progressistas, advogam, na prática, uma unicidade
cultural. É razoável que se lhes reconheça a liberdade de divulgação
das suas opiniões, mas não a sua pretensão de silenciar as vozes
discordantes. Este seu propósito não consta formalmente, é certo, mas
resulta da sua estratégia de depreciação pessoal e de intimidação sobre
quem se atreva a questionar o seu ideário político e social.
Um dos princípios da democracia é,
precisamente, a liberdade de pensamento e de expressão. Mas esta
liberdade não subsiste senão no respeito por todos os cidadãos,
quaisquer que sejam as suas opiniões, desde que as mesmas não
tipifiquem um delito de injúrias que, obviamente, de verificar-se, deve
ser punido.
Mas o incondicional respeito pelas pessoas,
pela sua dignidade e pelos seus direitos fundamentais, não tem por que
traduzir-se pela adesão às suas opções. É recorrente pressupor, por
exemplo, que os que defendem o matrimónio natural são contra as pessoas
com tendências homossexuais, convertendo-se assim, abusivamente, uma
legítima divergência conceptual numa inadmissível ofensa pessoal. Deste
jeito logra-se, através da falaciosa vitimização das pessoas, a
injusta condenação da tese que se pretende contraditar.
Com a mesma lógica, ou falta dela, os
regimes totalitários entendem que são anti-patriotas todos os
dissidentes quando, na realidade, estes apenas defendem um outro modo
de servir a pátria, que seguramente não amam menos nem servem pior do
que os seus opositores.
Todas as pessoas, sejam quais forem e como
forem, merecem respeito, mas as suas circunstâncias – sejam elas opções
de vida, ideias, teorias, gostos, doenças ou taras – nem sempre são
igualmente respeitáveis. É legítima a liga contra o cancro, mas não o
seria uma liga contra os doentes de cancro, por exemplo.
Mas a questão fundamental não é, contudo, a
da identidade de género ou a da natureza do matrimónio. O que
realmente está em causa é mais do que isso: é o modelo de sociedade que
se pretende para o nosso país, para a Europa e para o mundo.
Contra a intolerância e o totalitarismo dos
que pretendem impor critérios contrários à ordem natural, há que
recordar as exigências da natureza humana, fundamento dos direitos
fundamentais. Contra a ideologia contrária aos princípios da doutrina
social da Igreja, há que defender o direito de opinião e de intervenção
cívica dos fiéis, que não são menos cidadãos do que os não-cristãos.
Não se trata de impor à sociedade os dogmas da fé católica, mas fazer
respeitar o direito de cidadania da mundividência cristã, sem excluir
as outras religiões e filosofias sociais.
Defender a liberdade de pensamento e de
expressão é, entre outras, missão da Igreja a que me orgulho de
pertencer e que modestamente sirvo. Esta é, como cristão e como
cidadão, a razão da minha luta. Não tenho a veleidade de vencer, nem de
convencer, mas não me demito do meu dever de travar o bom combate da
fé.
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Fonte: Jornal W - Voz da Verdade
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