Não
é difícil compreender o que falta para que os portugueses voltem a ser
um povo alegre e combativo. Ao contrário da maioria, não acredito que a
tristeza é parte do seu carácter, mas sim uma manifestação da doença que
os atingiu após a perda do sentido de missão nos últimos séculos.
Enquanto andarem perdidos, ou melhor, a buscar na imitação de povos
imbecilizados a solução para os seus problemas, continuarão assim, a
definhar lentamente. Porém, há forma de os levar novamente à vida, e
pobres dos seus inimigos, especialmente os internos, quando isso
acontecer...
A
brandura, a meiguice portuguesa, está só à superfície; raspai-a e
encontrareis uma violência plebeia que chegará a meter-vos medo.
Oliveira Martins conhecia bem os seus compatriotas. A brandura é uma
máscara. a linguagem da imprensa ultrapassa aqui em violência tudo o que
de mais violento se escreva em Espanha. Lá nunca se poderiam ter
escrito páginas como as que Fialho de Almeida dedicou n'Os Gatos à morte
do Rei Dom Luís e à proclamação de Dom Carlos, aquele que depois foi
morto por Buiça. E, na literatura, os nossos mais fogosos escritores têm
de ceder em força aos de aqui. Este povo não é só sentimental mas
também apaixonado, ou melhor, mais apaixonado do que sentimental. A
paixão o traz à vida e a mesma paixão, consumida a sua chama, o leva à
morte. Hoje, que lhe resta?
Miguel de Unamuno
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