Sou monárquico até às entranhas, ao
ponto de achar que ninguém o deve ser de ânimo leve. Sou monárquico, nos
dias de hoje, porque acredito que este é o regime que melhor se adequa
ao nosso país, garantindo mais estabilidade política e uma chefia de
estado independente dos partidos. Como tal, sou um monárquico que
acredita no futuro da monarquia, o que é bastante raro em Portugal.
Conheço muitos bons monárquicos, mas
reconheço que como colectivo somos maus. Na maioria, temos uma tendência
parva para nos tornarmos saudosistas manhosos, intelectuais de salão e
velhos jarretas reaccionários. Achamos que estamos certos e até tenho
certeza que o estamos, no entanto, achamos que as nossas opiniões se
autolegitimam por obra e graça de S. Nuno de Álvares Pereira. Para nós,
monárquicos, não interessa irmos para a rua, não importa comunicarmos os
nossos ideais e lutarmos por aquilo em que acreditamos. O mais
importante, é estarmos unidos na convicção da nossa verdade, morrendo
lentamente enquanto movimento, enroscados na confortável mantinha da
resignação republicana.
Os últimos tempos têm sido um pouco diferentes. Existiu o 31 da armada e o episódio da bandeira na Câmara Municipal de Lisboa, o IDP cresceu
alicerçado na força do Professor Mendo Castro Henriques e as redes
sociais serviram de fóruns de discussão sobre a monarquia. Algo mudou,
infelizmente muito pouco. As estruturas monárquicas, que nos representam
institucionalmente, continuam essencialmente moribundas. Os dirigentes
de hoje são os dirigentes de há 30 anos e os filhos e netos dos
dirigentes de há 30 anos. Não incomodamos ninguém, não trabalhamos
enquanto grupo, não nos renovamos e temos uma tendência confusa de temer
tudo o que venha de novo. Somos essencialmente seres politicamente
confusos, hesitantes entre seguir em frente ou contentarmo-nos com o
passado.
Não foi preciso ir ao congresso deste
fim-de-semana da Causa Real, para perceber que já era hora dos
dirigentes monárquicos de sempre abrirem portas à renovação, ouvirem os
monárquicos do amanhã e fazerem algo para deixarmos de ser menos dia
após dia.
Também publicado no Albergue Espanhol.
publicado por João Gomes de Almeida em "Estado Sentido"
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