A
21 de Maio de 1662 casou-se com Carlos II, aquela que até hoje, seria a
última Rainha da Grã-Bretanha com o nome de Catarina. Desde cedo se lhe
referiam como Kate, tal como agora é popularmente conhecida a futura
consorte de Guilherme de Gales. O casamento foi cuidadosamente tratado e
se para Portugal significou a garantia da independência em boa hora
restaurada no 1º de Dezembro de 1640, para os britânicos marcou
decisivamente, o momento da ascensão imperial que levaria a Union Jack a
todo o planeta. Não será muito ousado afirmar que essa segurança
proporcionaria a Portugal, a manutenção de um império ultramarino que
chegaria ao nosso tempo e hoje significa a presença da língua portuguesa
em quatro continentes.
Os
noticiários têm passado constantes imagens do movimento em torno do
enlace daquele que num futuro ainda distante, será o monarca do nosso
mais antigo - talvez o único, constante, teimoso e verdadeiro - aliado. A
esmagadora maioria entusiasmar-se-á por um espectáculo que segundo os
cânones ingleses, surge como uma obra de cinema avidamente seguida por
dois mil milhões de espectadores. Se uns tantos criticam o evidente
dispêndio de somas destinadas a uma organização que zela para que tudo
surja impecavelmente disposto e apresentado, muitos já pasmam com o
caudal de ouro que entra nos cofres do Estado. Materialmente, a
Monarquia consiste num esplendoroso negócio para a Grã-Bretanha e em
qualquer loja de rua amontoam-se souvenirs que podem atingir preços
exorbitantes, adquiridos por coleccionadores em todo o mundo. É certo
que se o kitsch e a irreverência são parte integrante no conjunto da
oferta, há que notar a extraordinária qualidade de peças que vão desde
as faianças à joalharia, vestuário e acessórios. O famoso By Appointment
of H.M. The Queen, consiste numa inesgotável fonte de receitas para o
Exchequer e paralelamente, nota-se a existência de uma próspera
indústria que dá trabalho a um importante contingente de cidadãos. A
Monarquia é sinónimo de Grã-Bretanha e de Commonwealth e o fraquíssimo e
quase caricato "movimento republicano", não passa de uma curiosidade ao
nível de anedota cockney.
Para
incredulidade dos observadores do continente, a Coroa goza de um imenso
prestígio dentro e fora das fronteiras do país, pois soube ser nas
horas difíceis, o essencial esteio daquela união popular que permitiu
vencer todas as adversidades, por mais gravosas que pudessem
apresentar-se. A uma jornalista espantada dizia a Rainha Isabel, a mãe
da actual monarca, que "os londrinos esperam ver-me sempre firme e bem
apresentada, eles querem ter a certeza de que a Rainha está ali, que não
teme nem foge". Se as palavras não foram precisamente as mesmas que
aqui deixamos, foi esta a mensagem transmitida. Londres vivia os meses
terríveis do blitz imposto pela Luftwaffe e a constante presença de
Jorge VI e de Isabel nas ruas de Londres, levaria Hitler a considerar a
soberana, como "a mulher mais perigosa da Europa". Para os britânicos,
canadianos, neo-zelandeses, australianos, sul-africanos, jamaicanos e
tantas outras populações daquilo que conhecemos como Commonwealth, o
Palácio de Buckingham foi o centro de uma certa ideia de um mundo livre
que para sempre queriam preservar. Os símbolos contam e pelo que se vê,
estão longe, muito longe de desaparecerem. Um exemplo é a evidente
alegria que varre todo o país, onde os entusiastas colocam ombro a ombro
britânicos, as comunidades imigrantes e muitos milhares de turistas que
acorreram à capital do Reino Unido.
Amanhã
veremos uma cerimónia sem igual, um eco que o passado também já viu
desfilar pelas ruas de Lisboa. Imagens de bom gosto, de um imenso
orgulho de mostrar ao mundo aquilo que a Grã-Bretanha tem de melhor.
Algumas carruagens, talvez bem modestas se compararmos com a quase
acintosa qualidade e requinte daquelas que mal conservamos no Museu dos
Coches, serão o foco de todos os olhares e mostrando a quem quiser ver, a
não cedência perante modas efémeras ou à ausência de convicções de uns
tantos ressabiados que diante dos televisores, não deixarão de proferir
uns tantos ditos jocosos. Não perdendo sequer uma imagem,
contentar-se-ão no ensimesmar de rancores e porque disso estamos
seguros, de uma inveja larvar que é bem um sintoma de vários desesperos e
desgraças que geralmente recaem sobre as pobres cabeças que dizem
governar.
As
Monarquias servem sobretudo nos momentos difíceis. Hoje o Reino Unido
aproveita esta oportunidade e durante horas a fio, beneficiará de uma
publicidade comparável a um evento de nível mundial, estimulando a
economia, arrecadando cabedais para o tesouro público e enchendo de
contentamento negociantes, políticos e populares que anseiam por
melhores tempos. As guerras, as discórdias partidárias, o difícil
equilíbrio de poderes ou as crises económicas, causam perturbações à
segurança dos Estados e assim sendo, a necessidade de referências comuns
torna-se imperiosa. Não é um chefe de partido ou um exaltado mas
efémero caudilho, quem conseguirá concitar a quase unânime aquiescência
que aqueles momentos exigem. Os ingleses sabem-no bem, enquanto nós,
portugueses, fazemos os possíveis para não reconhecer essa evidência. É
que bem vistos os factos, também temos a "nossa Commonwealth", ainda
tímida e hesitante, mas não menos promissora. Se quisermos.
Catarina de Bragança, Rainha da Inglaterra, Escócia e Irlanda
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