As
festas do Natal, infelizmente, não anulam os nefastos efeitos do que já
é considerado a pior crise dos nossos dias. De um momento para o outro,
o que era deixou de ser. A honra proverbial dos banqueiros deu lugar a
delinquências que só não são comuns por serem muito piores do que isso. O
dinheiro, pedra angular das sociedades que o capitalismo liberal foi
fazendo germinar, perdeu o brilho de outros tempos. Não por se ter
tornado menos luzidio, mas por ter aparentemente desaparecido. Contudo,
as dificuldades não raras vezes carregam oportunidades. E também neste
caso, neste dramático cenário que vai ser também o nosso, teremos de
descobrir os aspectos positivos que a turbulência acabará sempre por nos
oferecer. Uma dessas oportunidades é a da descoberta do verdadeiro
sentido do Natal. Sem dinheirinho para comprar a alegria das crianças,
talvez não seja pior maravilhá-las com a história do Deus-menino,
nascido em Belém, pobremente, numa manjedoura. Este Menino que assim
nasceu era Rei.
Este
paralelo, que só a quadra autoriza, remete-me para o simbolismo da
Instituição Real. Hoje, o Rei não se justifica pelo poder temporal que
exerce mas pelo capital de representação que personifica. O Rei, pela
especial legitimidade que lhe advém da sucessão dinástica, assume como
mais ninguém a isenção constitutiva da suprema magistratura do Estado.
Neste sentido, não será livre e isento quem quer. Só o será quem pode.
Tomar
como panaceia miraculosa o sufrágio directo e universal é uma
insensatez que só se explica pela verdura da nossa vivência democrática.
E esperar do chefe de Estado eleito pela força centrífuga dos partidos
isenção absoluta é ainda mais infantil do que acreditar no Pai Natal.
Como se disse, não será livre e isento quem quer. Só o será quem pode. E
quem é fruto do sistema, não pode negar a árvore de onde provém.
Eu,
porém, acredito no Menino Jesus. Acredito que há lugar para uma
dimensão espiritual na nossa vida. Acredito que não sou auto-suficiente.
Acredito na transcendência. Acredito no poder não coercivo do
simbolismo. Acredito na efectiva separação de poderes. Acredito na Coroa
e na sua dimensão afectiva. Acredito na superioridade ética, genética,
da Instituição Real. Acredito em Portugal e nas suas gentes.
Acredito na História. Acredito no Futuro. Acredito que seremos capazes
de devolver o Estado à Nação. Acredito em tanta coisa… mas não me peçam
para acreditar no Pai Natal.
Viva o Rei!
Nuno Pombo * (Dez-2008)
* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.
Texto publicado no Diário Digital a 23-Dez-2008
Fonte: monarquiaonline
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